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Urbanismo para que te quero

24 de Dezembro de 2020 às 00:01

Marcelo Augusto Paiva Pereira

Urbanismo é espécie de intervenção urbana, da qual é o pensamento sobre a cidade. Consiste no estudo técnico de planejamento, elaborar projetos urbanos, redes de infraestrutura urbana, programas de moradia social e contribuir à regulação do território e ao aparelhamento do Estado. É despolitizado e realista. A finalidade é viabilizar as funções urbanas.

A urbanização (também espécie de intervenção urbana), é a ação de urbanizar, criar núcleos habitacionais e comerciais. É um fenômeno social e não requer prévio planejamento. Como exemplo, as comunidades implantadas nas periferias das grandes cidades.

Em relação às cidades, a urbanização faz delas os espaços urbanos em que as relações de trabalho preponderem sobre as relações sociais, na razão do elevado número de moradores.

Quanto às vilas, aldeias e bairros, a urbanização faz deles os espaços urbanos em que as relações sociais preponderem sobre as relações de trabalho, na razão do pequeno número de moradores.

As duas guerras mundiais deram entendimento diverso ao urbanismo. Primeiro, foi tratado como modelo universal, fundado na figura do homem cosmopolita, pensamento difundido até a década de 30 do século passado. Em seguida, o urbanismo perdeu esse foco para dar atenção à realidade urbana das cidades atingidas pela Segunda Guerra Mundial.

Após a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), os arquitetos e urbanistas indicaram cinco aspectos das cidades: funcional, social, higiênico, tecnológico e político. A Carta de Atenas (1933), nos seus 95 artigos as abordou, distribuídas em três partes: a primeira, trata da cidade; a segunda, da habitação, lazer, trabalho, circulação e patrimônio histórico; a terceira, das conclusões e pontos de doutrina.

À aludida Carta, são aspectos funcionais a habitação, lazer (recreação), trabalho e circulação (não incluiu o patrimônio histórico). Ignora a topografia e sítios (históricos) urbanos. Apresenta soluções universais para qualquer cidade ao redor do mundo. É criticada até a presente época.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), surgiram outras propostas de urbanização, como foram a reconstrução, o planejamento tecnocrata e as “new towns”.

A reconstrução fez a recuperação das cidades -- como eram antes da guerra -- e preservou a memória dos sobreviventes daquele conflito beligerante (como exemplo, a cidade de Frankfurt am Main). O planejamento tecnocrata se reporta ao moderno, ao zoneamento, ao rodoviarismo e depende do corpo técnico das administrações públicas. As “new towns” (cidades novas) surgiram na Inglaterra (1946) e foram planejadas para espalhar a população de Londres após a mencionada guerra. Algumas delas: Harlow, Hemostead e Milton Kaines (1947).

Em suma, ao fim da Segunda Guerra Mundial o foco do urbanismo deixou o modelo universal para abordar os cinco aspectos da cidade diante da realidade urbana de cada, inclusive quanto ao patrimônio histórico e cultural (no Brasil as bases do urbanismo são o paisagismo e o patrimônio privado, público e histórico). Enfim, este é o urbanismo para que te quero. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.