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‘Uma garota à porta’ no cine Reflexão

24 de Maio de 2019 às 00:01

‘Uma garota à porta’ no cine Reflexão A menina e a delegada: relação complexa. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

“Uma garota à porta” é o filme de estreia da diretora sul-coreana July Jung. Lançado em 2014, transcorre numa aldeia na beira do mar. Começa com a chegada ao local de Yeong-nam, uma delegada de polícia transferida temporariamente de Seul. Em seu diálogo com o superintendente da polícia local, fica subentendido que a transferência da delegada para aquela aldeia remota se deveu a um assunto pessoal, o que para ela serviu como punição. Ela vive isolada em sua casa, tenta não se integrar com os habitantes da aldeia, embora seja bem tratada. Em casa, ela se entrega ao consumo de álcool, que é a forma que encontrou para dormir à noite. Esconde seu vício comprando bebidas e transferindo-as para garrafas que aparentam ser de água.

A população da aldeia é composta, em sua maioria, de velhos. E um jovem, proprietário de um barco pesqueiro, é o líder econômico local; ele recruta, escraviza, explora e agride selvagemente trabalhadores imigrantes ilegais pobres do sudeste asiático. Mas os habitantes se calam diante desse comportamento desumano, entendendo que seja benéfico à economia do local, e a própria polícia se omite de punir o jovem por causa da sua atividade profissional que dá algum movimento à precária economia da aldeia. É o caso que ocorre muitas vezes nas sociedades, em que o alardeado bem comum serve como desculpa para a transgressão de direitos humanos.

Esse homem mora com a mãe e com uma menina, Do-hee, filha adolescente de uma mulher que havia sido sua esposa e o abandonara, deixando-lhe a filha para criar. Ele também é chegado ao álcool e, quando embriagado -- assim como sua velha mãe -- torna-se violentamente agressivo com a enteada. Em suma, os dois, quando alcoolizados (o que com frequência acontece), descarregam sua raiva em Do-hee.

O primeiro contato da delegada com Do-hee ocorre quando um grupo de colegas de escola está para agredir a menina. Sentindo-se amparada e segura na companhia da delegada, Do-hee se instala por uns dias na casa de Yeong-nam, o que não desagrada o padrasto da menina, que se livra dela temporariamente. A delegada entra em confronto com o arrogante padrasto de Do-hee por causa do tratamento que ele dá à menina e por causa do emprego de indivíduos ilegais em sua atividade. Mas os habitantes da aldeia não estão muito dispostos a ajudá-la. Pelo contrário, a menina é maltratada também por outras pessoas.

Do-hee é vítima da violência de adultos e é compreensível que a delegada procure protegê-la. E a menina, fruto do tratamento que vinha recebendo, mostra crescente necessidade de ser amada e protegida. Chega a dizer à delegada que só precisa dela e de mais ninguém.

O filme concentra-se nas relações emotivas entre a mulher firme e decidida e a menina frágil e rejeitada. São relações instáveis, que nos vão mostrando gradualmente a organização psíquica das duas personagens. E o espectador lamenta que Yeong-nam não consegue se livrar do seu passado e passa a sentir recair sobre ela as injustiças do mundo que ela se empenhava em combater.

Serviço

Cine Reflexão

“Uma garota à porta”, de July Jung

Hoje, às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita