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Um perigo chamado desidratação

12 de Setembro de 2018 às 09:37

Para funcionar corretamente o organismo precisa de uma quantidade de água e eletrólitos (sódio, cloro, potássio, etc). Quando diminui a quantidade de líquido e/ou eletrólitos, fala-se em desidratação. As causas que levam à desidratação são variadas, como febre, diarréia, vômitos, suores intensos, etc. O que mais provoca desidratação é a diarréia, que são evacuações líquidas ou pastosas em grande quantidade, com perda excessiva de fluidos e eletrólitos. A diarréia pode ser infecciosa (vírus, bactérias, etc) e não infecciosa, que é causada por intolerância alimentar (alergia, etc) e medicamentos (antibióticos). Quando a diarréia dura mais de duas ou três semanas fala-se em cronicidade, podendo ser um sintoma de enfermidade prolongada, como os divertículos, pólipos, neop!asias, inflamações dos intestinos, etc.

A desidratação é mais grave em crianças e idosos. As diarréias de verão, por exemplo, são provocadas geralmente por rotavírus, que são infecções limitadas, sem necessidade de tratamento ou somente necessitam de reposição de líquidos. Na intoxicação alimentar são importantes os agentes bacterianos, como os estafilococos, salmonelas, shiguelas, vibriões, etc. Não esquecer as diarréias por fungos, como a candidíase (sapinho) ou as parasitoses intestinais (giárdia, lombriga, ancilóstomo, estrongilóide, esquistossomo, etc).

Existem diarréias por alergia ou intolerância alimentar, sendo referida pelo portador como “a comida que não caiu bem”. A desidratação se manifesta por sede intensa, diminuição da urina, sensação de fraqueza e tonturas. Em crianças pequenas pode-se incluir, ainda, boca ou língua seca, pouca ou nenhuma lágrima ao chorar, fraldas não molhadas por três horas ou mais, olhos, bochechas e abdome encovados ou fontanela (moleira) deprimida, irritabilidade ou apatia (falta de energia) e diminuição da turgidez da pele.

O médico deve ser avisado na presença de desidratação intensa, sangue nas fezes ou fezes escuras, vômitos persistentes, cólicas abdominais severas, febre alta, falta de melhora após 24 horas ou diarréia acima de 3 a 4 dias. No caso de fezes líquidas com sangue fala-se em disenteria, que é característica de algumas enfermidades, como a shiguelose, colite por amebas, etc. Faz-se o tratamento da desidratação com a ingestão de líquidos (soro caseiro, etc), todavia, nos casos graves, há necessidade de internação para hidratação endovenosa.

Também, na dependência da gravidade e do tipo de infecção, empregam-se antibióticos potentes, como nas shigueloses, salmoneloses (febre tifóide, etc), E. coli enterotoxigênica, clostridium, etc. O que não se deve permitir é a ingestão de remédios que inibem o movimento dos intestinos, pois o contato das toxinas com o órgão acarreta agravamento do processo (gastroenterite, enterite, enterocolite ou colite).

O diagnóstico preciso da desidratação exige a dosagem de eletrólitos, com a finalidade de caracterizar o tipo: hiper ou hipotônica. Assim, nas febres a desidratação é geralmente hipertônica, pois a perda de líquidos pelo suor é maior que a de eletrólitos, enquanto na diarréia é usualmente hipotônica. Para prevenir a desidratação deve-se beber grande quantidade de líquidos ou soluções hidratantes especialmente formuladas, assim como evitar bebidas que contenham cafeína ou álcool.

Os medicamentos antidiarréicos geralmente não são necessários e só devem ser usados após consulta médica. Os remédios empregados para tratar os adultos com diarréia podem ser perigosos para crianças e idosos. A desidratação é mais frequente nos meses de verão, tendo em vista a maior ingestão de líquidos, frutas e verduras contaminadas. Mas existe o ano todo. Por isso é preciso extremo cuidado com água poluída (doce ou salgada), poços contaminados, fontes ou mesmo água da rede pública não tratada. Nunca é demais recomendar o uso de água mineral, principalmente gaseificada, que não permite falsificação. Na dúvida, ferver a água ou tratar com produtos clorados.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.