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‘Um herói muito discreto’ no Cine Reflexão da Fundec

06 de Março de 2020 às 00:01

‘Um herói muito discreto’ no Cine Reflexão da Fundec Albert (Mathieu Kassovitz) e a esposa (Sandrine Kiberlain): relacionamento construído na fraude, como tudo no filme. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Em abril de 2018 apresentei na Fundec o filme “Cidadão Klein” do diretor norte-americano Joseph Losey. Apesar de ter características de suspense, o filme tratava de um episódio obscuro e delicado da história da França, com respeito à sua colaboração com a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Este “Um herói muito discreto” trata do mesmo assunto sob uma perspectiva satírica, porque relata as aventuras de um indivíduo, Albert, que cria do nada um passado glorioso de resistência contra o regime nazista.

Aos 13 de junho de 1940, o Exército nazista alemão ocupou Paris. Aos 22 de junho, a França assinou um acordo de armistício pelo qual os alemães ocuparam a parte norte do país e toda a linha costeira do Atlântico. No Sul da França, foi estabelecido um regime colaborador dos nazistas, a República de Vichy, de ideologia fascista, chefiada pelo marechal francês Philippe Petain. Pierre Laval era o presidente. Ao final da guerra, em 1945, Petain foi condenado à prisão perpétua e Laval foi executado.

O historiador, biólogo e escritor Claude Levy, no documentário “A tristeza e a piedade”, dirigido por Marcel Ophüls, afirma que a França foi o único país da Europa que colaborou livremente com o nazismo e instaurou leis racistas que iam mais longe do que as leis alemãs. Os argumentos de Claude Levy são confirmados e ampliados pela filósofa política alemã de origem judaica, Hannah Arendt, em seu livro Eichmann em Jerusalém.

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Quando Albert era criança, sua mãe se referia ao marido como um herói da Primeira Guerra Mundial, bravamente morto em combate. Por isso, ela pleiteava uma pensão de viúva de soldado veterano. Mas, por meio de amigos, o menino acaba descobrindo que seu pai era, de fato, um alcoólatra que morrera de cirrose.

A tapeação, como a da mãe de Albert, será o mote do filme. Albert tem o dom de se aproximar daqueles que podem ensiná-lo a enganar. Aprende os artifícios do amor com uma prostituta, copia trechos de livros e os envia a uma jovem, dizendo que são de sua autoria; a moça, ingenuamente, acredita no seu talento de escritor e se casa com ele. Depois do final da guerra, ele descobrirá que os pais da jovem eram da resistência. Ele foge de casa abandonando a mulher e, em Paris, conhece o Capitão, que aconselha Albert a inventar um novo passado. Albert passa então a estudar textos sobre a resistência, memoriza nomes, situações. Aprende muito durante o período em que se torna secretário particular de um certo senhor Jo, homem enigmático que sobreviveu à guerra fornecendo aos nazistas e à resistência o que eles queriam.

Albert retrata o jovem sem qualquer talento especial que aprende a tapear para sobreviver no caos de final da guerra. Ele se torna mestre do engano. Sua figura ridiculariza e desmonta o discurso nacional construído pelos franceses, o de que o país foi libertado pela resistência, com alguma ajuda dos aliados, e que “salvo um punhado de miseráveis”, como disse de Gaulle, o resto dos cidadãos se comportou como verdadeiros patriotas.

Serviço

Cine Reflexão

“Um herói muito discreto”, de Jacques Audiard

Hoje, às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita