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Turismo pós pandemia ganha novo significado

17 de Julho de 2020 às 00:01

Grazielle Ueno Maccoppi

Pensar no favorecimento do tempo em detrimento da quantidade de destinos visitados é renegar parte da estrutura do turismo que conhecemos até hoje. O chamado over tourism, que é caracterizado pela prática em larga escala, que lota aeroportos e destinos turísticos, sobrecarregando infraestruturas e é altamente prejudicial à comunidade local por afetar a tranquilidade nativa, será renegado.

É o momento de valorizar destinos de pequeno porte, atrativos simples e sem reconhecimento internacional. Viabilizar estruturas com poucos recursos e favorecer as viagens em pequena escala, parecem como a única alternativa para saciar o desejo humano em descobrir e desfrutar do ambiente natural frente à pandemia. As mesmas viagens que até outrora eram desprezadas pelos grandes empreendimentos hoteleiros são atualmente diamante a ser moldado.

Foi necessária uma paralisação mundial, um bloqueio na movimentação automática de pessoas para se reconhecer e promover a reconexão humana com os elementos naturais fundamentais para o bem-estar humano. Frente a este cenário de instabilidade e incertezas, reflete-se sobre questionamentos fundamentais para a recuperação do setor turístico.

Quais os efeitos da pandemia no turismo brasileiro e no mundo? As pessoas estão sendo convidadas a modificar seus padrões comportamentais, suas formas de interagir, de trabalhar, suas rotinas, seus hábitos e até a forma de se comunicar. Com isso, o consumo por viagens e pelo turismo também está sendo modificado.

O sol, a brisa do mar, o cheiro da terra e a conexão com os elementos da natureza estão sendo recalculados por todos nós. Espera-se que o consumidor adquira maior consciência dos elementos reais que formam uma viagem. Para além da escolha dos meios de transporte e de hospedagem, a viagem tem por fundamento a conexão interna consigo, com aqueles em que se escolhe como companhia e com o destino que se visita. Espera-se como impacto da Covid-19, que viagens mais intimistas recebam a sua devida valorização, menor impacto aos recursos naturais e mais valor, não econômico, mas de significados a cada indivíduo. Espera-se que o consumo do turismo em larga escala seja revisitado e modificado de maneira ampla e definitiva. Que as viagens sejam eminentemente formas de fortalecimento das relações humanas em detrimento de formas de consumo exacerbado ou de reprodução de status ou posição social.

Toda a cadeia turística está sofrendo de forma direta os impactos da pandemia, e muitas discussões buscam contribuir com as possíveis formas de se recuperar. Tudo ainda é incipiente, não há respostas prontas ou fórmulas mágicas. O que se sabe em relação aos negócios turísticos é que eles sofrerão modificação estrutural no que se refere aos cuidados sanitários, aos controles de visitantes e até em relação aos padrões de consumo.

Empreendimentos que se voltarem para a oferta de experiências únicas com o destino, com respeito ao ambiente natural e as tradições locais, parecem mais apropriados a esta nova realidade mundial. Além disso, é necessário que o empreendimento observe o consumidor como aliado em todo o processo.

Somos todos parceiros na superação do desafio posto. Sendo assim, a comunicação entre destino turístico e consumidor é baseada na honestidade, de forma direta e clara, estabelecendo rede de fortalecimento e de ajuda mútua. Deixe o seu cliente saber dos seus desafios e que ele decida como ajudá-lo em cada etapa do processo. Certamente, além de consumir uma viagem mais consciente, ele também participará ativamente da sua recuperação.

Como é possível se preparar para situações como essas no futuro? Acredito na modificação estrutural do consumo e da oferta de produtos e serviços de forma diferenciada e inovadora. No turismo, o cenário nacional se configura como oportunidade de desenvolvimento único. Muitos darão preferência para viagens internas, pequenos deslocamentos e para a segurança de permanecer em seu território.

O desejo de viajar e estar conectado com os elementos naturais estão sendo potencializados com o isolamento, é da natureza humana a necessidade de descoberta e de encantamento com o meio ambiente. O turismo nacional recebe por este movimento oportunidade única de ser alavancado e valorizado de forma especial. Que a sensibilidade do momento nos permita conectar e fomentar a descoberta das potencialidades locais e a valorizar os espaços e os atrativos nacionais.

Grazielle Ueno Maccoppi é coordenadora dos cursos de Gestão de Turismo e Gestão Empreendedora de Serviços do Centro Universitário Internacional Uninter.