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Transformando dor em evolução

05 de Dezembro de 2019 às 00:01

Sandra Saleti Batista de Pádua

Conseguir transformar dificuldades e deficiências em contribuições construtivas é utilizar a perspectiva de um novo olhar sobre a vida que temos a nossa frente. É possível que fiquemos prisioneiros de uma fantasia perigosa que é acreditar que devemos nos esforçar para ter uma vida livre de problemas, contradições, fatos dolorosos e frustrações. A fantasia é algo arriscado porque pode nos levar a lutar por alguma coisa que não existe. Segundo Viktor Frankl, “Se não está em suas mãos mudar uma situação que causa dor, você pode escolher a melhor atitude com a qual você possa enfrentar este sofrimento.”

Muitas vezes, sem termos muita consciência, pensamos que algo está errado em nossas vidas simplesmente porque não é perfeito. Todos nós temos problemas, enfrentamos contradições internas e assumimos que isso está errado, que não deveria ser assim. Dessa forma deduzimos que há um modo de vida onde não existe problema e nenhuma dificuldade. Isto é um autoengano, pois a própria vida é uma dificuldade para resolver, mas também uma oportunidade para crescer. No nascimento, e mesmo antes dele, carregamos o efeito de todos os problemas ainda não resolvidos pelos nossos pais e pelas gerações anteriores, além das dificuldades da sociedade na qual chegamos ao mundo. Assim, à medida que crescemos, enfrentamos as nossas próprias carências, necessidades e contradições. Se pensarmos bem, não poderia ser de outra forma. Mesmo que a nossa vida seja harmoniosa, mais cedo ou mais tarde vamos enfrentar dores físicas, emocionais, perdas, doenças, morte de pessoas queridas, pois estas etapas fazem parte do ciclo da vida.

Daremos um grande passo para a paz interior quando entendermos que uma vida perfeita não existe e que não é razoável acreditar nela.

Desistir dessa fantasia é um ponto de partida muito importante para iniciar o longo processo de aprendizado: transformar problemas, dificuldades e dores em uma contribuição positiva para nossas vidas. A leitura que fazemos de todos os acontecimentos demonstra a perspectiva que adotamos diante da vida, se temos uma visão positiva vamos aproveitar os fatos como oportunidade de crescimento interior e não vamos nos abalar tanto e nem vamos classificar como insuportáveis, tudo está em nossa mente, nos pensamentos que temos e que acreditamos serem verdadeiros. Mesmo a experiência mais bonita pode se tornar negativa se decidirmos olhá-la dessa forma: amar com egoísmo, amar com medo de perder, amar com vontade de controlar. Quando olhamos a vida pelo lado negativo estaremos focados no pior das pessoas, vamos enfatizar apenas os defeitos dos outros e do mundo.

Precisamos mudar nosso pensamento e nossa visão de mundo, nem sempre as coisas acontecem simplesmente, elas têm uma motivação, às vezes acontecem para ensinar algo. Não é fácil entender isso, mas quando entendermos que tudo depende de como organizamos nossas ideias e nossas percepções para interpretar a realidade. A capacidade de elaborar cada experiência de forma construtiva determina se uma situação dolorosa vai se repetir ou não. Quanto antes aprendermos a lição mais rápido nos livraremos de situações dolorosas.

O processo de transformação interior somente cada um de nós pode realizar dentro de si mesmo. Não é fácil e nem garante uma vida feliz, o que essa transformação faz é nos proteger de uma vida miserável, repleta de dor e desespero, na qual podemos ser objeto passivo de adversidades.

Sandra Saleti Batista de Pádua é Mestre em Serviço Social na área fundamentos da vida pela PUC/SP.