Todos nós, únicos todos
O número de refugiados ultrapassa a cifra de 5 milhões de pessoas em todo o mundo. Contudo, a contar com o destaque nos meios de comunicação, a sensação que temos é que o tema já “saiu de moda”, esgotou-se em 2015. Para comprovar nossa impressão, pesquisamos em sites diversos, assim como em imagens nas mais variadas fontes, buscamos dados em órgãos oficiais, como no site do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ANHCR/Acnur), e verificamos que o assunto, no Brasil, pouco repercute em 2017. Nestas pesquisas, encontramos rádios que prestam serviços para os refugiados, como é o caso das rádios Al-Ghad (Iraque) e Refugee Rádio Network (Alemanha). Nesses suportes, o refugiado se vê representado, mas também estigmatizado. Como o próprio jornal Cruzeiro do Sul já o fez, buscamos um refugiado em Sorocaba que concordasse em conversar conosco acerca de sua trajetória, seus dilemas e alegrias na terra que o acolheu.
No relatório da Acnur, vemos indicado para o Brasil, em 2015, ano do último relatório, um total de 8.707 refugiados, sendo que 1.753 são assistidos pela Acnur. Um total de 20.815 solicitações de asilo pendentes e 6.424 pessoas de interesse da Acnur (não pertencem aos demais grupos mas que estão sob proteção e/ou assistência da agência) e quatro pessoas consideradas apátridas pela Acnur. A Colômbia é o país, do mundo, com maior número de pessoas deslocadas de sua origem 8.405.265, segundo dados atualizados do Registro Único de Víctimas (RUV).
No plano ideológico, parece existir uma tentativa dos meios de comunicação, em conjunto com setores industriais e de serviços internacionais em retirar do conceito de “refugiado”, toda carga negativa e de fracasso social que ela carrega. Fracasso no sentido de nossa própria humanidade, de não sermos capazes de resolver os problemas de maneira mais abrangente, contentando-nos em sermos meros observadores do que sucede com outros humanos.
Em todos esses suportes pesquisados, o que chama atenção é a predominância das fronteiras, físicas ou imaginárias. Fronteiras que sempre servem para separar. Dizendo-nos, constantemente que o outro desconhecido (sim, outro com minúscula!) é perigoso e, portanto, deve ser apartado de nosso convívio. Que o outro diferente deve ser evitado para que sua diferença não influencie nossos padrões impostos. As políticas impostas de cima para baixo querem nos fazer acreditar que a fronteira guarda uma população homogênea com sua língua, costumes, cultura e com direitos padronizados. Ledo engano, somos heterogêneos, mesmo delimitados por tais fronteiras.
O desconhecimento traz o medo. O reconhecimento leva ao comprometimento com o Outro (sim, outro com maiúscula!). Leva ao compromisso com a humanidade: aquela em que o humano nunca é demasiado.
Essa é também a proposta, mesmo depois dos 16 anos de sua morte, do geógrafo brasileiro Milton Santos com o território vivido, que deve ser entendido como o território da vida, território de todos os atores, sejam hegemônicos -- como as empresas trans/multinacionais que desestruturam os territórios --, sejam os atores não-hegemônicos -- a grande maioria -- para quem o território não é um recurso, mas uma moradia compartilhada.
No limite, essa territorialidade implica a condição de ser livre, e para Jean-Paul Sartre -- filósofo francês da existência e liberdade --, nenhuma fronteira, seja física, psicológica, socioeconômica, consegue barrar a liberdade. Ele vai além quando afirma e reafirma que estamos condenados à felicidade, isso não nos redime da relação com o Outro. É nessa relação que nos vemos únicos, livres e parte de todos Nós.
A poetisa brasileira Cecília Meireles, em “Romanceiro da Inconfidência”, afirma: “Liberdade -- essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!”
Paulo Celso da Silva, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Mestrado e Doutorado da Uniso. Doutor em Geografia Humana. E-mail: [email protected]
Aparecida M. R. Oliveira, mestra em Comunicação e Cultura pela Uniso. E-mail: [email protected]
Luiz Carlos Rodrigues, mestrando em Comunicação e Cultura na Uniso. E-mail: [email protected]
Renata Puertas Ernandes, mestra em Comunicação e Cultura pela Uniso. E-mail: [email protected]