Crédito da foto: Erick Pinheiro / Arquivo JCS (10/6/2019)

Telmo Pereira Cardoso

Em julho de 2018 escrevi sobre a grave situação que o Aeroclube atravessava: dívidas financeiras; frota de aviões desmantelada; cursos cancelados pela Anac; áreas de concessão alugadas irregularmente para terceiros; processos judiciais contra ex-dirigentes; etc.

Lembrei que desde 1995, o Aeroclube tenta legalizar, na Prefeitura, as áreas públicas que ocupa no aeroporto através do Processo Administrativo nº 12.362-0/1995.

Citei que a Pista de Aeromodelismo construída pela Prefeitura em 1994, que serviu por 24 anos para a prática do aeromodelismo, atividade que desperta vocações, forma profissionais e cidadãos, afastando adolescentes das drogas e do ócio, foi inutilizada em fevereiro de 2018 por uma associação particular de proprietários de hangares no aeroporto que alegavam que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o Departamento Aeroviário do Estado (Daesp) exigiam o alargamento de pista de taxiamento de aviões, que se isso não ocorresse a pista do aeroporto seria interditada, que empresas sairiam do aeroporto levando empregos e renda, que poderiam ocorrer graves acidentes, etc. Com essas e outras justificativas falsas, a associação conseguiu que Câmara de Vereadores, em 2016, aprovasse a concessão de direito de uso de área pública para alargar a pista de taxiamento e assim, inutilizou a pista de aeromodelismo, cortando-a ao meio.

A Anac e o Daesp não confirmaram que exigiram o alargamento da pista de taxiamento; boa parte dos associados da associação particular não concorda com a obra de alargamento e seus altos custos. Não existe justificativa de interesse público, o interesse é exclusivamente particular. A obra de alargamento não teve continuidade e então a Prefeitura decidiu recuperar a pista de aeromodelismo, devolvendo-a para a cidade festivamente em 17 de agosto de 2019.

O Ministério Público está questionando a necessidade e a legalidade da obra de alargamento da pista de taxiamento, com possível dano ao patrimônio público, já que a pista de aeromodelismo inutilizada foi construída com recursos públicos e invasão de área pública fora da área de concessão. Recente matéria veiculada no Cruzeiro do Sul trata de denúncias envolvendo vereadores e um advogado em possíveis irregularidades no processo de aprovação da lei que concedeu o uso da área pública para alargamento da pista de taxiamento.

Resta ainda a recuperação do Aeroclube e da Escola de Pilotagem.

Como os novos gestores do Aeroclube sequer conseguem apurar o valor das dívidas financeiras e não conseguem formatar um plano de recuperação factível, o prefeito, ainda em 2018, determinou a publicação de um edital para que interessados apresentassem propostas para recuperação e gestão de um novo aeroclube e de uma nova escola de pilotagem. Assim, a Prefeitura poderia conceder a Permissão do Direito de Uso das Áreas Públicas e a nova entidade iniciaria sua operação, após as autorizações da Anac e do Daesp e Sorocaba teria novamente seu Aeroclube e sua Escola de Pilotagem, que por 77 anos foram destaque no cenário aeronáutico nacional. Não houve aprovação para a única proposta apresentada.

Conclamo os sócios e ex-sócios do Aeroclube, Prefeitura, Anac, Daesp, imprensa, entidades como Ciesp, Acso, Aeas, Conselho do Patrimônio Histórico, universidades e o empresariado local para reativarmos o Aeroclube de Sorocaba e Escola de Pilotagem.

Em 1942, plena Segunda Guerra Mundial, foi fundado o Aeroclube de Sorocaba. O Sr. Frederico Adolfo Schleifer doou as terras para implantação do aeroclube e pioneiros, como o prefeito Cap. Augusto Cesar do Nascimento Filho, o editor-chefe do jornal Cruzeiro do Sul, Jurandyr Badinni Rocha, Paulo Pereira Ignácio, Floriano Pacheco, Virginio Montezzo Filho, José Mesquita, Otaviano Pereira da Silva, Doraci Amaral, Irse Mencacci, entre tantos tiveram vontade, coragem e ação e assim construíram o primeiro hangar e a pista em terra do “campo de aviação’ que deram origem ao que hoje é o pujante Aeroporto Bertram Luiz Leupolz e o Polo de Manutenção e Serviços Aeronáuticos de Sorocaba.

Passados 77 anos, temos que ter a competência e a coragem de reeditar aquela história!

Telmo Pereira Cardoso é engenheiro civil e engenheiro de segurança do Trabalho, piloto privado e aeromodelista. Foi diretor social do Aeroclube de Sorocaba em 1991/1992 e presidente de 1993 a 1996.