Sol de primavera
Paulo Sergio Bretones
Como o tempo voa, já estamos em setembro e no dia 23 teremos o início da primavera para o hemisfério Sul. Isto nos faz lembrar a música de Beto Guedes, “Sol de primavera”, que inicia dizendo: “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos...”. A música tem uma letra muito bonita que menciona e nos faz refletir sobre o perdão, sonhar e inventar uma nova canção. Sobre o Sol de primavera, isso nos remete a um período de renovação, com dias mais quentes e as flores. Mas nem sempre é assim no Brasil, com o clima subtropical, dependendo do lugar onde moramos com temperaturas que variam de formas diferentes e as flores que aparecem das mais variadas formas em todos os lugares ao longo do ano.
O Sol de primavera também nos inspira a conhecermos o funcionamento e a construção de relógios de Sol. Uma prática bem simples, que pode ser feita com estudantes numa escola ou com um grupo de interessados, é colocar uma haste na vertical, o gnômon, espetada numa superfície horizontal e lisa em local aberto, iluminado pelo Sol e observar ao longo do dia o movimento da sombra. Na data do início da primavera ou em dias próximos, se acompanharmos a ponta da sombra e fizermos marcações no chão, podemos notar que ao longo das horas, juntando os pontos, veremos uma linha reta. De maneira muito simples, precisa ser planejada para acompanhar a mudança da posição da sombra de manhã e à tarde, antes e depois da passagem do Sol pelo meridiano local, próximo ao meio-dia. A atividade também permite determinar a linha meridiana, a direção norte-sul, a latitude do lugar e é bem explicada no livro “O Céu”, de Rodolpho Caniato, publicado em recente edição pela editora Átomo, de Campinas.
Isto também ocorre no início do outono, em março, mas no início do verão e do inverno, o movimento da ponta da sombra fará curvas de um lado ou do outro.
Os relógios de Sol podem ser dos tipos horizontal, vertical e equatorial, e têm estes nomes conforme o local onde a sombra é projetada e as horas podem ser lidas e com uma haste ou ponteiro alinhado com a linha meridiana e apontado para o sul e o polo celeste do local, conforme a latitude.
Na cidade de Sorocaba, existe um horizontal no jardim em frente ao edifício Eng.º Antônio Ermírio de Moraes, na Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens). Certamente existem outros em áreas particulares como empresas, escolas e até instituições não só em Sorocaba, mas em várias cidades da região e em muitas outras do Brasil e do mundo.
Em tais cidades existem vários relógios de Sol que necessitam ser preservados, protegidos e podem ser conhecidos. Mas nas outras que não têm precisam de incentivo para construí-los em locais públicos onde alunos, professores e público em geral possam vê-los e entender seu funcionamento.
É importante lembrar que, no dia do início da primavera, o Sol nasce no ponto cardeal leste e se põe no ponto cardeal oeste como também ocorre no início do outono, em março para nós do hemisfério sul. Mas isto não ocorre nos outros dias do ano. Sobre as posições do nascer e o pôr do Sol e o funcionamento dos relógios de Sol, muita gente acha que sabe, mas não sabe. Estas atividades de observações e práticas precisam ser promovidas para que crianças e pessoas de todas as idades tenham a experiência do contato com a natureza e seu funcionamento, na chamada “aprendizagem ativa” e que não fiquem apenas usando celulares, mas que também são úteis para fazerem belíssimas fotos. É exatamente isto que nos remete ao final da música de Beto Guedes: “A lição sabemos de cor. Só nos resta aprender.”
Paulo Sergio Bretones é professor do Departamento de Metodologia de Ensino/UFSCar.