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Sobre artrose

26 de Setembro de 2019 às 00:01

Tulio Pereira Cardoso

O desgaste da cartilagem e demais elementos articulares é conhecido como osteoartrose ou artrose.

Cartilagem articular é uma estrutura macia e elástica que recobre as extremidades dos ossos dentro das articulações. É composta basicamente por água, proteoglicanos, aminoglicanos, ácido hialurônico, colágeno e células chamadas condrócitos. Artroses primárias decorrem do envelhecimento biológico e as secundárias por doenças associadas ou sequela de traumatismos. Após os 65 anos de idade, 70% das pessoas têm algum grau de artrose, embora felizmente nem todos tenham sintomas.

Artroses secundárias podem ter origem inflamatória, como a artrite reumatoide, ou por sequela de uma fratura articular. A necrose óssea, comum na cabeça do fêmur, pode evoluir para artrose. Infecções articulares, gota e hemofilia são outras causas de desgaste. A obesidade agrava a dor pela sobrecarga de peso e alguns estudos sugerem haver associação de origem genética entre obesidade e artrose.

O que acontece com a cartilagem?

Inicialmente perde a elasticidade e surgem fissuras que evoluem para microfraturas. Na tentativa de compensar a perda de cartilagem, o osso vizinho cresce. Esse aumento irregular forma os conhecidos “bicos-de-papagaio” ou osteófitos, uma maneira que a natureza encontra para tentar ampliar a superfície de apoio entre os ossos. A membrana sinovial que reveste internamente as articulações passa a produzir mais liquido sinovial, que nutre e lubrifica a cartilagem, gerando “derrame articular” conhecido como, por exemplo, “água no joelho”.

Como prevenir a artrose?

A herança genética e o envelhecimento são inevitáveis, mas existem maneiras de envelhecer com saúde prevenindo ou retardando o aparecimento de diversas doenças, inclusive a artrose. Prática constante e moderada de atividades físicas, esportes de baixo impacto e alimentação equilibrada com controle do peso corporal, são formas de prevenir ou diminuir o aparecimento da artrose.

Como tratar a artrose?

Tratamento conservador com uso de medicamentos analgésicos e antinflamatórios, alongamentos, fortalecimento muscular e exercícios na água, pode diminuir a dor, o edema ou inchaço, e melhorar a função articular. O uso prolongado de antinflamatórios, principalmente os hormonais ou corticoides pode trazer problemas gástricos, hepáticos e renais. Infiltrações articulares com substâncias analgésicas e cortisona têm papel importante no alívio e remissão dos sintomas, mas têm seu uso limitado a poucas vezes ao ano.

Há alguns anos surgiram “suplementos alimentares” comercializados no Brasil como medicamentos condroprotetores que podem diminuir os sintomas. Estudo efetuado em Framingham nos Estados Unidos, demonstrou que indivíduos que usavam antioxidantes na dieta, tinham menos artrose. Recentemente o uso de colágeno trouxe mais uma alternativa no tratamento conservador, mais os resultados não são uniformes. Infiltrações de derivados do ácido hialurônico ajudam alguns pacientes por tempo variável. Fisioterapia tem importante papel na diminuição da dor e melhora do movimento articular. Alongamentos, fortalecimento muscular, hidroginástica e Pilates são formas bastante eficazes.

Existe cirurgia para artrose?

Na artrose do joelho, com pouca deformidade e pouco sintomas, podemos realizar “toiletes” articulares ou limpezas feitas por artroscopia associadas ou não a osteotomias que são cirurgias de correção de pequenas deformidades angulares. Casos mais graves em estágio avançado com muita dor, associada ou não a deformidade, temos a indicação das artroplastias. As mais comuns são do quadril e joelho, mas podem ser feitas também no ombro, cotovelo e tornozelo.

O que é artroplastia?

É cirurgia que pode envolver a simples ressecção da cartilagem ou sua substituição por articulação artificial com o implante de prótese. Existem diversas técnicas e modelos de próteses, cada qual com suas particularidades e indicações. Como é feita a artroplastia? As próteses compostas por aço inox, ligas metálicas, cerâmicas e polietileno são implantadas cirurgicamente sob raquianestesia e sedação, com duração aproximada de 2 horas e internação hospitalar média de três dias. São recortadas as superfícies cartilaginosas danificadas preservando o máximo de osso possível e implantando os componentes da prótese que podem ser fixados com um adesivo conhecido como cimento ortopédico, ou por impacção ou press fit. Não é usada imobilização. Recomenda-se repouso nos primeiros cinco dias. Pode andar, pouco, pisando com os dois pés e par de muletas ou andador, nos primeiros 15 dias.

Quais são as complicações da artroplastia?

Todas aquelas inerentes a qualquer cirurgia. As mais temidas são infecção e embolia. A prevenção é feita pré-operatoriamente com investigação clínica e laboratorial; durante a cirurgia por técnica precisa, e no pós-operatório por acompanhamento cuidadoso. É comum ouvirmos falar em rejeição, mas habitualmente o que ocorre é infecção, já que os materiais das próteses são inertes e biocompatíveis ou seja, aceitos pelo organismo.

O que podemos esperar da cirurgia?

Diminuição ou abolição da dor, correção da deformidade e melhora da função articular permitindo o retorno às atividades de vida diária (andar, subir e descer escadas, dirigir). Criar falsas expectativas, como prometer uma articulação “normal” e recomendar a prática de atividades físicas de impacto, como corrida e futebol, pode frustrar os pacientes. A idade não é fator limitante na indicação dessa cirurgia e a evolução de novos modelos e materiais vem melhorando dia a dia o resultado das artroplastias. Existem técnicas convencionais e outras que utilizam navegação, com uso de instrumentos guiados por computação. Novos modelos “sob medida” já estão no mercado, mas têm custo ainda muito alto. Há uma expectativa do uso de robótica e certamente no futuro a inteligência artificial deverá ter seu papel.

Dr. Tulio Pereira Cardoso é médico fundador do Grupo de Estudos do Joelho de Sorocaba e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho.