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Sínodo para a Amazônia

06 de Outubro de 2019 às 00:01

Costela Master Chef Dom Julio Endi Akamine. Crédito da foto: Manuel Garcia

Dom Julio Endi Akamine

A Assembleia do Sínodo Especial dos Bispos para a Amazônia acontecerá entre os dias 6 a 27 de outubro. Participam pelo Brasil 56 bispos e dois Administradores das Dioceses e Prelazias da Amazônia. A Igreja Católica no Brasil terá um número significativo de participantes na Assembleia Sinodal: serão 118 para os mais diferentes serviços.

A realização do Sínodo para a Amazônia já provocou muita discussão e algumas polêmicas. Um dos temas que será aprofundado está o da necessidade de uma ecologia integral que inclua as dimensões humanas e sociais. Esse apelo por uma Ecologia integral está profundamente radicado na fé em Deus Criador, mas não se dirige somente aos próprios católicos. O empenho por uma ecologia integral supera os limites da própria Igreja Católica para convidar as pessoas de boa vontade a uma transformação da vida e da sua relação com o bioma Amazônico.

Bioma é uma palavra pouco conhecida, mas exprime uma realidade essencial da vida que inclui o solo, a água, a luz e todos os seres vivos, de modo especial os humanos. Esses elementos não estão simplesmente presentes em um único ambiente, mas se relacionam e interagem vitalmente: tudo está relacionado com tudo.

Com a celebração do Sínodo para a Amazônia, os católicos desejam convidar as pessoas de boa vontade para o cuidado com a vida no planeta. Como tudo se relaciona com tudo, defender o bioma Amazônico significa cuidar da natureza e da humanidade, principalmente dos mais pobres; significa também rever e mudar o nosso modo de viver e de professar a fé cristã.

A terra existe antes de nós, e nos foi dada por Deus para “cultivá-la e para guardá-la” (cf. Gn 2,15). Na Revelação bíblica, “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, e “guardar” significa proteger, cuidar, preservar.

Concretamente “cultivar e guardar a terra” implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. Com efeito, todos nós podemos tomar da bondade da terra aquilo de que necessitamos para a sobrevivência, mas temos também o dever de protegê-la e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras. Não queremos entregar para as próximas gerações uma criação esgotada e destruída. Assim a reciprocidade responsável se desdobra em uma solidariedade intergeracional.

Os cristãos defendem uma espiritualidade fundada no Deus criador: “ao Senhor pertence a terra” (Sl 24/23,1); a Ele pertence “a terra e tudo o que nela existe” (Dt 10, 14). Esta fé se concretiza no cuidado pela nossa casa comum, nos faz tomar consciência de que não somos Deus. Deus nos proíbe toda a pretensão de posse absoluta da natureza. A melhor maneira de colocar o ser humano no seu lugar e acabar com a sua pretensão de ser dominador absoluto da terra, é voltar a propor a figura de um Pai criador e único dono do mundo; caso contrário, o ser humano tenderá sempre a querer impor à realidade as suas próprias leis e interesses.

A criação é muito mais do que a simples natureza. Por isso, não é suficiente a mera preservação da natureza. É preciso defender a criação de Deus! Cuidamos da nossa casa comum e temos zelo pela criação porque ela é projeto do amor de Deus. Professar a fé no Criador inclui considerar que, na criação, cada criatura tem um valor e um significado em si mesma.

O conceito “natureza” se entende habitualmente como um sistema que se analisa e se administra, mas o de “criação” só pode ser concebido como um dom que vem das mãos abertas do Pai, como uma realidade iluminada pelo amor que nos chama a uma comunhão universal.

Nós cremos que a criação pertence à ordem do amor e não somente à ordem econômica de recursos a serem explorados e consumidos. O amor de Deus é a razão fundamental de toda a criação: “Tu amas tudo quanto existe e não detestas nada do que fizeste; pois, se odiasses alguma coisa, não a terias criado” (Sb 11,24). Assim cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um lugar no mundo. Até a vida efêmera do ser mais insignificante é objeto do Seu amor e, naqueles poucos segundos de existência, Ele o envolve com o seu carinho.

A criação está cheia de palavras de amor do Pai, e para ouvi-las a Igreja Católica realizará o Sínodo Especial para a Amazônia.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.