Sete semanas de escuridão
Mario Eugenio Saturno
Algumas notícias assustadoras assaltaram-nos neste fim de semana passado: crianças estão morrendo de uma doença rara, mas que deixou de ser rara com o coronavírus grassando os Estados Unidos e o Reino Unido. A flexibilização da Alemanha durou apenas cinco dias e o coronavírus retornou, impressionante! Na Coreia do Sul, que estava vencendo o coronavírus, também aconteceu o mesmo, aliás, políticos ligados ao governo federal mentem dizendo que neste país não aconteceu quarentena.
Esses fracassos nos fazem perguntar: quando vai acabar a quarentena? E quando acabar, como será? Os países que ignoraram a letalidade do vírus, Itália e Espanha, acompanhamos pela TV o que aconteceu. A Itália decretou o confinamento total (“lockdown”) no dia 9 de março, querem flexibilizar agora, mas com dois meses depois desta data, contabilizam 200 mortos por dia em média. Já a Espanha decretou o confinamento em 14 de março, dois meses depois, está iniciando a flexibilização também com 200 mortos por dia em média. Não vai dar certo!
É preciso ressaltar que esses países citados são muito mais organizados que o nosso, a começar pelo transporte público. Aqui, não podem mais ser lotados. Outro ponto fraco são as lojas, shoppings e supermercados, quem já foi aos Estados Unidos deve ter ficado surpreso, pois estes estabelecimentos estão sempre vazios. Por quê? Porque lá eles ficam abertos por mais tempo, inclusive, há muitos que ficam abertos 24 horas. Então, é um erro enorme restringir os horários, ao contrário, tem que ampliar para suportar. Sem falar que restringir horário vai aumentar o desemprego.
A China é o único país que venceu a crise, ou seja, zerou o número de mortes, tem 1,44 bilhões de habitantes (estimativa deste ano), o número de infectados ficou em apenas 82.918 e de mortes em 4.633 chineses. A China precisou somente de sete semanas em confinamento (lockdown) para vencer esta crise sanitária e partir para a seguinte, a crise econômica. Não patinaram muito!
A Itália e a Espanha nos mostram o que acontece quando se demorar para entrar no confinamento (lockdown) e a Coreia do Sul, se liberar bares e festas. Estamos a caminho da situação dos dois primeiros, lenta, mas certamente. Nossa salvação é a declaração imediata do confinamento e de todas as cidades, pois não sabemos quem está contaminado e transmitindo. E deve durar 45 dias, porque os infectados atuais poderão infectar outros na mesma casa nos 14 dias que o contágio pode durar e que infectarão outros.
Então, é possível flexibilizar aos poucos conforme orienta a Organização Mundial da Saúde, a saber: 1) Transmissão controlada; 2) Sistema de saúde capaz de testar e isolar casos; 3) Minimizar surtos em casas de repouso; 4) Administrar importação de casos; 5) Engajamento da comunidade; 6) Prevenção no trabalho e escolas.
O confinamento para São Paulo tem uma vantagem: desde o dia 16 de abril, o número de mortes por Covid-19 de SP cresce seguindo uma reta e não uma exponencial como o resto do país. A quarentena paulista é mequetrefe, mas evita a exponencial. Só a união dos representantes eleitos e da Justiça poderá salvar o país.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.