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Quem tem medo das lombrigas?

13 de Março de 2019 às 00:01

Mário Cândido de Oliveira Gomes

As lombrigas, também conhecidas como “bichas”, têm reputação duvidosa, uma vez que o povo responsabiliza esses vermes por enfermidades que não correspondem à realidade, tais como manchas na face, sonambulismo, ataques, anemia, nervosismo, etc. É comum o leigo dizer: “Isso é ataque de bichas”, ou então, “As manchas da pele são lombrigas”. E toma vermífugo, sem melhora do quadro. O parasitismo provocado pelas lombrigas acarreta sintomas respiratórios (tosse, escarro, roncos, falta de ar, etc), digestivos (cólicas intestinais, náuseas, vômitos, perda de apetite, crescimento da barriga e emagrecimento), além de sintomas nervosos (sono intranquilo, ranger de dentes, convulsões e irritabilidade).

A infestação é mais frequente em escolares e pré-escolares, sendo encontrada em 60% da população. Apesar de espalhada pelo mundo, a verminose predomina nas regiões tropical e subtropical. O verme causador da doença, o Ascaris lumbricoides, tem o corpo longo (10 a 40 cm) e cilíndrico, vivendo no interior do intestino fino, em número variável de 4 a 600 exemplares. As fêmeas põem até 200 mil ovos por dia, que são eliminados pelas fezes, contaminando o solo úmido e sobrevivendo por tempo superior a um ano. O indivíduo adquire o verme ao deglutir os ovos, geralmente por meio das mãos sujas de terra, ingestão de alimentos contaminados e através de hortaliças poluídas com fezes humanas.

A poeira doméstica e o lixo dos quintais também abrigam os ovos, que são carreados pelos insetos (moscas) e aves, além dos ventos e chuvas. Os ovos ingeridos tornam-se vermes adultos após dois ou três meses, podem passar despercebidos pelo hospedeiro e são eliminados espontaneamente pelo ânus, boca ou narinas. Um grave problema em crianças é o fechamento do intestino por um bolo de vermes (obstrução intestinal) causando dores intensas, distensão da barriga e parada de eliminação de fezes e gases. A solução precisa ser urgente, pois existe a possibilidade de risco de morte.

O diagnóstico da verminose é feito por meio do exame parasitológico de fezes e pela eliminação espontânea da lombriga, enquanto o tratamento é relativamente fácil, com o uso de vermífugos potentes. A cura é de 100% com um só tratamento e os efeitos colaterais desprezíveis. Na prevenção da parasitose é fundamental o uso de fossas ou privadas na zona rural, a fim de impedir a contaminação do solo. Também são importantes outros cuidados, como lavar cuidadosamente as mãos após a defecação e antes das refeições, assim como as frutas e legumes, ou deixar as verduras depositadas numa mistura de água com vinagre ou cloro. Ainda, evitar a ingestão de raízes cruas sem lavar ou raspar previamente. Por outro lado, a água de consumo deve ser filtrada e clorada, mantendo-se o lixo longe das habitações para não chamar as moscas.

O tratamento das pessoas parasitadas também é importante, na tentativa de quebrar a cadeia epidemiológica de transmissão. A observação desses princípios, que se aplicam às verminoses em geral, certamente vai melhorar a higiene das habitações e o nível de educação sanitária da comunidade, constituindo uma forma eficiente de posicionamento na luta contra os vermes. Uma conduta que deve ser totalmente erradicada é a adubação das verduras e hortaliças com fezes humanas. Tal prática acarreta a disseminação de diversos parasitas, como a lombriga, o ancilóstomo (amarelão), o tricocéfalo, tênias, giárdia, etc. responsáveis por quadros piedosos dos numerosos “Jecas-Tatus”.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.