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‘Paris, os loucos anos vinte’

21 de Junho de 2019 às 00:01

‘Paris, os loucos anos vinte’ Paris anos 20: rebeldia nas artes e contra a submissão das mulheres à hegemonia masculina. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Na próxima sexta-feira (28), o Cine Reflexão da Fundec apresentará o filme “Meia-noite em Paris”, encerrando uma curta série de obras de Woody Allen. O filme transcorre em Paris em três épocas distintas: na atualidade -- o filme é de 2011 --, na década de 1920 e, brevemente, no início do século 20.

A década de 1920 em Paris foi de enorme significado para a Arte. A capital francesa recebeu uma avalanche de artistas novos ou já famosos que se afastavam da arte consagrada e se dedicavam a novas técnicas e estilos; por isso, escrevi este artigo para situar o espectador na prodigiosa atmosfera cultural daquele período.

É grande a bibliografia que trata do assunto. O escritor estadunidense Ernest Hemingway morava na cidade na época e relatou suas experiências em um livro intitulado “Paris é uma festa”, lançado em 1964, três anos após o seu suicídio. Relata que eram muito pobres e muito felizes na época. Com linguagem mordaz, Hemingway cita personalidades -- artistas em sua maioria -- que habitavam na “Cidade Luz”, como Paris era conhecida. Muitos norte-americanos se dirigiram à Europa para se distanciarem da Lei Seca no governo de Woodrow Wilson e do puritanismo do presidente Warren Harding.

Um documentário disponível no Youtube intitulado “Paris, los locos años veinte”, dirigido por Fabien Béziat em 2013, traz um panorama geral da vida da capital francesa naquela década. É composto por arquivos de videotecas de vários lugares do mundo. Relata o momento em que Paris se tornou, depois do final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, a cidade para a qual se dirigiam artistas de vanguarda para propagarem suas ousadas inovações. Ali se misturavam pessoas comuns com aristocratas, pobres com milionários e se encontravam artistas plásticos como Matisse, Picasso, Modigliani, Miró, Dali; escritores e poetas como F. Scott Fitzgerald e sua mulher Zelda, T.S. Eliot, além do já citado Hemigway; representantes da “Era do Jazz”, como Cole Porter e Josephine Baker.

Vários desses personagens célebres aparecerão no filme “Meia-noite em Paris”.

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Na casa da poetisa e romancista estadunidense Gertrude Stein em Paris reuniam-se diversas dessas personalidades e também os escritores Ezra Pound e James Joyce. Foi em uma livraria de Paris, a Shakespeare and Company, de propriedade da norte-americana Sylvia Beach, que “Ulysses”, de James Joyce, foi publicado em 1922. Em 1924, o escritor francês André Breton publicava o Manifesto do Surrealismo, que tanta influência exerceu na Arte.

“Os loucos anos 20” foram momentos de festa e alegria incrustrados como um corpo estanho no que Hobsbawn chamou de “Era da catástrofe”, que cobre os acontecimentos que vão do início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, até 1945, final da Segunda Guerra Mundial. Nesse período ocorreu a crise de 1929, que deu início à grande depressão econômica, que perdurou ao longo da década de 1930. Com seus efeitos devastadores, a depressão atingiu a França. A partir daí tudo mudou e, em maio de 1940, o país foi invadido pelo exército alemão de Hitler. Paris foi tomada em junho do mesmo ano.

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