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‘Para sempre Lilya’ encerra ciclo sobre imigração europeia

14 de Dezembro de 2018 às 00:01

‘Para sempre Lilya’ encerra ciclo sobre imigração europeia Lilya é uma jovem de 16 anos que vive nas ruínas da antiga União Soviética. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

“Para sempre Lilya” é daqueles filmes que abordam a sociedade atual nos países da antiga União Soviética pós-comunista. “Minha felicidade”, do bielorrusso Sergey Loznitsa, “Leviatã”, do russo Andrey Zvyagintsev, “O chefe” e “O idiota”, ambos do russo Yuri Bykov, são alguns exemplos. O que esses filmes têm em comum é o fato de mostrarem um panorama extremamente pessimista das relações sociais. É isto que ocorre com este filme de 2002 do sueco Lukas Moodysson.

Lilya é uma jovem de 16 anos que mora em um conjunto de prédios, espécie de cortiço, em deploráveis condições de conservação. Poucos apartamentos parecem habitados -- talvez porque as pessoas se tranquem em casa -- e entre os prédios há vastas áreas vazias e descuidadas. Esse cenário sombrio, úmido e parcialmente gelado, incomodante, com nuvens cinzentas, é figura da própria condição social e moral dos personagens, que vivem sobre as ruínas da antiga União Soviética -- a começar por uma base militar arruinada --, em uma sociedade violenta e corrupta em todos os níveis, que é agora brutalizada pelo capitalismo, como havia sido pelo comunismo.

Lilya está feliz, porque acompanhará a mãe, que vai emigrar para seguir o namorado russo que mora nos Estados Unidos. Mas será deixada momentaneamente para trás e a mãe promete mandar buscá-la depois de um tempo. Mais tarde a jovem será notificada, por uma assistente social, de que a mãe abdicou da guarda da filha, ou seja, abandonou-a definitivamente.

A tia, que supostamente deveria cuidar de Lilya, é uma mulher grosseira, cheia de ódio, que ameaça encaminhá-la a um orfanato e sugere que ela “abra as pernas” para fazer dinheiro, como a mãe havia feito. No mesmo dia em que a mãe a abandona, Lilya é forçada a trocar de apartamento com a tia e é instalada em um quarto horrível e imundo, que havia sido ocupado por um velho soldado condecorado na guerra contra a Alemanha. Mais tarde, vários jovens reunidos no quarto caçoarão das medalhas do velho, ignorando a destruição e a morte que aquela guerra trouxe à União Soviética.

Lilya se afeiçoa a um menino, Volodya, de cerca de 13 anos de idade. Volodya tenta uma vez beijar a moça, mas ela o afasta rindo e o trata como a um irmão caçula. Ele foi expulso de casa pelo pai e ela o acolhe. Ele e Lilya suprem um ao outro do carinho que não puderam ter das respectivas famílias e de qualquer parente ou amigo. Essas duas pessoas são as únicas do filme em que existe afeto e solidariedade, porque os demais parecem estar em feroz confronto permanente.

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Amigo leitor, as sessões de cinema do Cine Reflexão da Fundec retornarão no dia 8 de fevereiro. Mas até lá continuarei escrevendo sobre cinema nesta coluna. Serão sete artigos sobre inteligência artificial, tecnologia da informação e ficção científica. O assunto é atual e de enorme importância uma vez que, na opinião dos especialistas, afetará, para o bem e para o mal, a vida de todos os seres humanos nas próximas duas ou três décadas.

Boas Festas a todos!

Serviço

Cine Reflexão

“Para sempre Lilya” de Lukas Moodysson

Hoje, às 19h, na Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73, Centro)

Entrada gratuita