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Pão para a fome

24 de Novembro de 2019 às 00:01

Dom Julio Endi Akamine

Temos que ter claro que fome não é o mesmo que apetite. Antes de tomar refeição temos apetite. Fome é quando temos vontade de comer, mas não temos o que comer. Nesse sentido a fome é a experiência antecipada da morte.

Não há como não sermos afetados pela dolorosa chaga da fome no mundo: hoje vão morrer de fome aproximadamente 40 mil pessoas! Tomar consciência dessa tragédia humana, mesmo que não resolva o problema na sua totalidade e na sua gravidade, ao menos pode aliviá-lo um pouco.

Nesse sentido, convido a lermos juntos o que o Papa Bento XVI, na encíclica Charitas in Veritate, 27, escreveu em 2009. Notem como é atual e urgente o que ele diz.

A fome ceifa ainda inúmeras vítimas entre os muitos Lázaros, a quem não é permitido sentar-se à mesa do rico avarento. Dar de comer aos famintos (cf. Mt 25, 35.37.42) é um imperativo ético para toda a Igreja, que é resposta aos ensinamentos de solidariedade e partilha do Senhor Jesus. Além disso, eliminar a fome no mundo tornou-se também um objetivo a alcançar para preservar a paz e a subsistência da terra.

A causa principal da fome no mundo a escassez material, mas é a dos recursos sociais e natureza institucional; isto é, falta um sistema de instituições econômicas que seja capaz de garantir um acesso regular e adequado à alimentação e à água.

As piores crises alimentares são provocadas mais pela irresponsabilidade política nacional e internacional do que por causas naturais. O problema da insegurança alimentar precisa ser enfrentado eliminando as causas estruturais que o provocam e promovendo o desenvolvimento agrícola dos países mais pobres por meio de investimentos em infraestruturas rurais, sistemas de irrigação, transportes, organização dos mercados, formação e difusão de técnicas agrícolas apropriada. Tudo isso deve ser realizado, envolvendo as comunidades locais nas opções e nas decisões relativas ao uso da terra cultivável.

Os direitos à alimentação e à água revestem um papel importante para a consecução de outros direitos, a começar pelo direito primário à vida. Por isso, é necessária a maturação duma consciência solidária que considere a alimentação e o acesso à água como direitos universais de todos os seres humanos, sem distinções nem discriminações.

É preciso que cresça, entre as pessoas, a vontade de ajudar os que passam fome. Não desperdiçar alimentos, viver de maneira austera, combater o consumismo, multiplicar as ações de solidariedade são gotas de amor no mar imenso da falta de pão no mundo.

Os “pobres Lázaros” estão diante de nossas portas. Não sejamos nós “ricos banqueteiros”, indiferentes e insensíveis. Enquanto estamos em vida, podemos transpor os “abismos” que nos separam dos que passam fome.

Precisamos de uma misericórdia criativa. Ajudemos os abrigos que servem refeições aos moradores de rua, participemos das coletas de nossas paróquias para ajudar as famílias pobres.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.