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Palavras de Paz

10 de Abril de 2021 às 00:01

Palavras de Paz Crédito da foto: pixabay.com

Edgard Steffen

Todos os vales serão aterrados,

e todos os morros e montes serão aplanados;

os terrenos cheios de altos e baixos ficarão planos,

e as regiões montanhosas virarão planícies. (Isaías 40:4)

Incertezas mil e dias de medo nos assaltam. Pavor da Covid. Medo de faltar vacina. Pavor de faltar vaga na UTI. Medo de precisar oxigênio. Temor pelo desemprego. Medo da falência. Pavor que volte a inflação. Apreensão de sermos levados a uma escolha entre o muito ruim e o pior. Palavras duras afloram até para definir a volta, ou não, de missas e cultos presenciais. Ainda que proferidas ou escritas para o bem comum, são amargas.

O embate entre os que têm posições diferentes perdeu a elegância civilizada e a leveza profunda da argumentação. O mundo em crise carece palavras de paz e conforto. Garimpemos algumas.

Do Reverendo. Martin Luther King, trecho do discurso “I have a dream”, proferido no encerramento da marcha pelos direitos civis:

Eu tenho um sonho que um dia “todos os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão niveladas; os lugares mais acidentados se tornarão planícies e os lugares tortuosos se tornarão retos e a glória do Senhor será revelada e todos os seres a verão conjuntamente”.

Com essa fé nós poderemos esculpir na montanha do desespero uma pedra de esperança. Com essa fé poderemos transformar as dissonantes discórdias do nosso país em uma linda sinfonia de fraternidade.

Com essa fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ser presos juntos, defender a liberdade juntos, sabendo que um dia haveremos de ser livres. Esse será o dia, esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: Meu país é teu, doce terra da liberdade, de ti eu canto.¹

Palavras de velho índio no Brasil Colônia (1556), não fariam feio inseridas no Sermão da Montanha. Quis saber porque levavam tanta lenha para a Europa. Explicaram-lhe que não era para fazer fogo, mas para comerciantes ficarem ricos, vendendo tinta do arabutã (pau-brasil). O nativo pensou que era para homens imortais. Quando soube que também morriam, e deixavam suas riquezas para os descendentes, concluiu: “Vocês são loucos. Trabalham tanto para amontoar riquezas para filhos ou parentes que sobreviverão! Não será a terra que nutriu vocês suficiente para alimentá-los? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que, depois da nossa morte, a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.”²

Só para comparação, lembremos o que está em Mateus 6:19-20 e 30-34: Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem, e onde ladrões escavam e roubam (...) porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. (...) Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos. (à) vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas; mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Palavras de Paz e Sabedoria foram escritas pelo Mahatma Gandhi, político indiano responsável maior pela independência da Índia. Enfrentou os colonizadores com marchas pacíficas, jejuns e desobediência civil. Eram cinco os pontos de pregação: amizade, igualdade, abstinência de álcool e drogas, unidade hindu-muçulmana e direitos iguais para as mulheres. Não era cristão mas, inspirou-se no Sermão da Montanha para escrever: A minha fé mais profunda é que podemos mudar o mundo pela verdade e pelo amor³.

Acredito que o índio morreu de velhice. Gandhi e Luther King, materializaram as palavras. Marcharam pela fé. Foram abatidos pela bala.

¹- Discurso proferido por M. L.King na frente do Capitólio (1963)

² - Resumo em linguagem atual do relato in “Brasil, História relatada por quem viu” de Jorge Caldeira”

³- Alves, R. - Biografia de Ghandi

Edgard Steffen, escritor e médico pediatra. ([email protected])