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Os dias nos quais a Terra quase parou

29 de Julho de 2020 às 00:01

João Carlos Wey

Parafraseando Raul Seixas (1945-1989) considerado por muitos como o “pai do rock brasileiro”, o Maluco Beleza:

“Essa noite eu tive um sonho de sonhador

Maluco que sou, eu sonhei

Com o dia em que a Terra parou...

Foi assim

No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro

Resolveram que ninguém ia sair de casa

Como se fosse combinado em todo o planeta

Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém, ninguém”.

Desde a idade mais remota, a natureza encarrega-se de mostrar aos homens que sempre há coisas que escapam ao nosso controle. Terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis, ondas de frio ou de intenso calor... essa lista é longa e vem atravessando a nossa história. Talvez o aspecto mais aterrador para nós, seres humanos, tenha sido as pragas, as epidemias, as pandemias de doenças infecciosas, muitas delas devastadoras na sociedade de cada época.

Alguns acreditam serem essas pragas, essas pandemias “o fim do mundo” ou “uma grande obra de Satanás” ou “um castigo Divino” ou “mudanças exemplares em nosso mundo” ou ainda “a chegada do Apocalipse”.

Hoje vemos o perigo sendo substituído, vemos a chegada do passageiro da agonia, da morte, com outros aspectos, mas igualmente fatal.

Por mais cruel, por mais cínico que possa parecer, esta não será a primeira e nem tão pouco a última das crises mundiais da saúde. Somente mais uma delas.

As crises pandêmicas planetárias são cíclicas e, porque não dizer, relativamente comuns. A história nos mostra muitas delas.

A PESTE NEGRA, nome dado a mais virulenta pandemia de peste bubônica e pneumônica da Idade Média (1347-1350). Alcançou a Europa, norte da África e Ásia. O número de mortos não pode ser avaliado corretamente, estima-se que 25 milhões de pessoas morreram, sendo um terço da população inglesa.

A CÓLERA, ocasionou 5 pandemias ao longo de 7 décadas, com mais de 100 milhões de mortos. Era a chamada “A água que mata”. Pessoas sadias ao despertar, eram sepultadas à tarde, mortas por um colapso circulatório. O sintoma principal era a diarreia, em grego “klolera”.

A GRIPE ESPANHOLA, pandemia entre 1918 e 1919, atingiu todos os continentes com um saldo de 50 milhões de mortos. Sua origem vem da mutação de um vírus influenza, que se iniciou nos EUA e talvez na China. Espalhou-se pelo mundo durante a Primeira Guerra Mundial, infectando ¼ da população mundial.

A GRIPE SUÍNA, o H1N1, primeira pandemia do século 21. Surgiu em porcos no México em 2009, espalhando-se rapidamente pelo mundo, atingindo 120 países. Estima-se que 1 bilhão de pessoas contraíram o vírus no planeta. No Brasil causou a morte de 2.100 pessoas com 54 mil infectados.

E agora? Qual a novidade pandêmica?

A COVID 19, o CORONAVÍRUS, a Gripe Atual. Se chamamos a gripe de 1918 de Espanhola e ela lá não começou, e a colônia espanhola não se sente estigmatizada nem racialmente perseguida por esse motivo, pergunto, porque não chamar a Gripe Atual de Gripe Chinesa, pois ela lá começou e não tem nessa nomenclatura qualquer atitude de estigmatizar ou de ter uma posição racista e xenofóbica com nossos amigos e irmãos chineses.

Com certeza, milhões de pessoas morrerão até que se chegue a vacina ou mesmo a cura dessa terrível pandemia.

A sociedade irá se modificar, os homens irão mudar suas posturas e atitudes. O mundo sofrerá transformações que, com certeza, irão purificar e depurar a nossa sociedade.

O legado dessa pandemia é que lições serão aprendidas e como lidaremos com as próximas catástrofes, que com certeza virão.

Enquanto escrevo este artigo tenho 3 familiares muito próximos e queridos com COVID e 3 vetorzinhos contaminados JV, Duda e Gu, que graças ao Grande Arquiteto estão bem, vendendo saúde.

Dr. João Carlos Wey é médico ginecologista e obstetra, membro da ASMACLE.