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Os anticorpos monoclonais, uma arma contra o coronavírus?

22 de Maio de 2020 às 00:01

Olivier Thibault

Paralelamente à corrida para encontrar uma vacina contra o novo coronavírus, as grandes empresas farmacêuticas também competem para encontrar anticorpos monoclonais, uma arma capaz de neutralizá-lo.

Os anticorpos monoclonais são usados há cerca de 30 anos para tratar câncer ou doenças inflamatórias e também podem funcionar contra o SARS-CoV-2, o nome científico do novo coronavírus que causa a doença Covid-19.

Originalmente, esses anticorpos são moléculas produzidas naturalmente pelo sistema imunológico para desencadear um ataque contra perigos específicos, como células cancerígenas, bactérias ou vírus. Para poder usá-los para fins terapêuticos, devem ser clonados em laboratório.

Atualmente, dezenas de equipes de pesquisa em todo o mundo trabalham para selecionar anticorpos capazes de neutralizar o coronavírus, responsável por uma pandemia que deixou mais de 320 mil mortos em todo o mundo.

Os anticorpos monoclonais são selecionados no sangue de pacientes curados ou produzidos em laboratório a partir de grupos de células preparadas para esse fim.

Todos têm em comum o ataque à proteína S com a qual o vírus SARS-CoV-2 se liga à superfície das células humanas, uma proteína que tem um papel fundamental no processo infeccioso, explicou à AFP o pesquisador Hugo Mouquet.

Há dois meses, seu laboratório de imunologia no Instituto Pasteur, em Paris, começou a procurar esses anticorpos. Até o momento, já fizeram uma primeira seleção de anticorpos a partir do sangue de uma dúzia de pacientes que tiveram uma “forte resposta imune”.

Outros laboratórios estão mais avançados, de acordo com inúmeras publicações científicas sobre a descoberta de anticorpos contra o coronavírus, ao todo cerca de quinze, diz Hugo Mouquet.

Na segunda-feira, uma equipe de cientistas suíços e americanos anunciou na revista Nature a descoberta de um anticorpo monoclonal humano “promissor”.

Chamado S309, este anticorpo “promete um antídoto eficaz para limitar a pandemia de COVID-19”, indicaram os pesquisadores.

O S309 tem a particularidade de ter uma atividade neutralizante de amplo espectro contra os sarbecovírus, uma categoria dos coronavírus do qual o SARS-CoV-2 faz parte, bem como o vírus responsável pela epidemia de SARS em 2003.

Algumas horas antes, uma equipe chinesa anunciou à revista americana Cell a descoberta de anticorpos neutralizantes eficazes. Trata-se de um “coquetel” de 14 anticorpos, selecionados no sangue de 60 pacientes chineses convalescentes.

Eles foram testados com sucesso em ratos e permitiram que animais doentes se curassem e animais saudáveis permanecessem protegidos após serem contaminados em laboratório.

Sunney Xie, chefe desta pesquisa e diretora do Centro de Inovação Avançada e Genômica da Universidade de Pequim, disse à AFP que existem ensaios clínicos em seres humanos em andamento com esses anticorpos e que pode haver um tratamento disponível ainda este ano.

Um prazo “viável”, de acordo com Hugo Mouquet, porque leva cerca de seis meses para realizar testes de eficácia em humanos com anticorpos monoclonais. No entanto, segundo o pesquisador francês, “eles teriam mais eficácia terapêutica do que preventiva”.

De qualquer forma, os anticorpos monoclonais não competirão com as vacinas, mas serão complementares, de acordo com o francês.

O conhecimento exato das modalidades de ação dos anticorpos monoclonais terá um efeito benéfico nas vacinas para torná-las “mais precisas e eficazes”, diz Mouquet.

Por enquanto, o principal obstáculo é econômico. O infliximab, um dos anticorpos monoclonais mais antigos e mais vendidos no mundo contra a doença de Crohn e a artrite reumatóide, custa, por exemplo, na França, cerca de 500 euros por dose.

Olivier Thibault é jornalista da Agência France Press (AFP)