Os 50 anos da chegada à Lua
Crédito da foto: Agostinho Setti / Cortesia (17/2/2017)
Paulo Sergio Bretones
No dia 20 próximo comemoramos os 50 anos da chegada do homem à Lua.
A Lua sempre foi uma grande inspiradora de poetas e namorados por sua beleza no céu noturno. Sempre foi um sonho do ser humano chegar lá como mencionado em livros como “Viagem à Lua” (1657), de Cyrano de Bergerac e “Da Terra à Lua” (1865), de Júlio Verne.
Após a 2ª Guerra Mundial, na Guerra Fria, a possibilidade de ir ao espaço era um recurso que garantiria o domínio militar, político e tecnológico entre as duas grandes potências, Estados Unidos e União Soviética, permitiria espionar e atacar outros países. Na época, competiam para o lançamento do primeiro satélite. Contudo, inesperadamente, os soviéticos, lançaram o Sputnik em 1957. O impacto disto feriu o orgulho norte-americano e provocou uma reação muito forte impulsionando a chamada corrida espacial. Os americanos lançaram seu primeiro satélite, o Explorer 1 em 1958, ano em que fundaram a Nasa. Mas logo após, em abril de 1961, Yuri Gagarin foi o primeiro homem a ir para o espaço e naquele ano, o presidente Kennedy fez um discurso no congresso apresentando o programa de levar um americano à Lua antes do final da década. Nessa competição, muitas naves não tripuladas foram para a Lua como a série Lunik, Zond e Lunikhod dos soviéticos e os Rangers, Surveyors e Lunar Orbiters dos americanos. Também ocorreram outras missões com naves americanas tripuladas como as Mercury e as Gemini. Para cada uma das missões Apollo foram desenvolvidas técnicas para permitir o lançamento e possibilitar todas as condições necessárias para chegar à Lua, fazer um pouso tripulado e ainda que os astronautas caminhassem no solo lunar fazendo experimentos e trazendo amostras.
A missão Apollo 11 lançada pelo foguete Saturno V, permitiu que os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin chegassem lá em 20 de julho de 1969, no Mar da Tranquilidade, com o módulo Águia e dizendo: “A Águia pousou”. Foi sem dúvida o evento de maior repercussão e mais bem-sucedido da corrida espacial. A famosa frase de Armstrong: “Um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade”, o primeiro a descer no solo lunar, e a placa deixada na Lua -- “Aqui, homens do planeta Terra pisaram na Lua pela primeira vez. Nós viemos em paz em nome de toda a humanidade” -- foram marcas históricas. Enquanto estavam no solo lunar, Michael Collins girava ao redor da Lua no módulo de comando.
Depois, ainda ocorreram as Apollo 12 até a 17, em 1972 e ao todo, 12 astronautas caminharam na Lua. As missões Apollo finalizaram com o acoplamento da Apollo 18 com a nave Soyuz em 1975, quando os americanos e soviéticos se encontraram no espaço de forma pacífica e se abraçaram, mas a Lua não foi mais visitada por astronautas. Também aconteceram acidentes como na Apollo 1, em 1967, num incêndio na base de lançamento que resultou na morte dos astronautas Grisson, White e Chaffee. Outro ocorreu na Apollo 13, mostrada no filme estrelado por Tom Hanks. A explosão de um tanque de oxigênio não permitiu que pousassem na Lua e a luta para trazê-los de volta à Terra foi uma história magnífica que precisa ser conhecida pelas pessoas.
Todos os esforços que fizeram com que a missão Apollo 11 fosse bem-sucedida realmente representam um marco histórico fascinante. Isto se relaciona à tecnologia desenvolvida, escolha, coragem e treinamento dos astronautas e a repercussão mundial com milhões de pessoas que assistiram “ao vivo” as imagens. Eu mesmo me lembro, de alguma forma, quando tinha 4 anos de idade, de ter visto tais imagens na TV. Até hoje, minhas tias Inspira e Luiza contam como eu estava ansioso, brincando na rua, indo e voltando para a sala de minha casa para ver a TV e perguntando: “E aí, chegaram? Desceram?” Também meu pai, que sempre manteve uma biblioteca e acervo considerável que sem dúvida me influenciou para o resto da vida, guardou na época as duas edições especiais da revista Veja. Também posteriormente obtive a edição da Fatos e Fotos com um disco compacto que narrava desde o lançamento até a chegada dos astronautas na Lua.
Mesmo sendo um evento muito importante, ainda hoje se pode questionar sobre os gastos gerados. Na ocasião, o pastor Ralph Abernathy protestava junto ao governo americano a falta de apoio à comunidade carente de negros. Os gastos com as missões espaciais, mesmo pelas nações mais desenvolvidas nem chegam perto do que se gasta com armamentos. Na época a Nasa teria gasto cerca de 25 bilhões de dólares, que atualmente seriam mais de 100 bilhões. Os Estados Unidos gastam com armamentos da ordem de 300 bilhões de dólares por ano.
Em janeiro passado os chineses lançaram a sonda Chang’e com um jipe-robô para pesquisarem o lado oculto da Lua e ainda estão sendo planejadas missões de cooperações internacionais para investigar o nosso satélite.
A chegada à Lua e inúmeras outras missões realizadas até hoje pelas agências espaciais de vários países sempre foram conquistas incríveis que precisam ser conhecidas pelas pessoas. As tecnologias desenvolvidas pelos programas espaciais trouxeram muitos benefícios que foram incorporados no cotidiano. E pode-se imaginar o quanto isto pode incentivar professores, estudantes e o público em geral para estudos e boas discussões. No lugar de gastos militares, muito pode ser feito em termos de cooperações internacionais visando estudos que não apenas trazem benefícios práticos, mas que de alguma forma nos fazem conhecer melhor nosso papel no Universo e valorizar o nosso próprio planeta.
Paulo Sergio Bretones é professor do Departamento de Metodologia de Ensino/UFSCar.