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Olhar o outro como reflexo

27 de Dezembro de 2019 às 00:01

Sandra Saleti Batista de Pádua

A vida é um aprendizado constante, contínuo, que tem origem em nossas vivências, em nossos encontros e desencontros e da leitura que fazemos do mundo, de nós mesmos e das coisas que acontecem exteriormente de maneira formal e informal. Mas o fato é: aprendemos sempre, em todos os momentos e com todas as situações. Mario Quintana diz que a vida é um caminho longo, onde você é mestre e aluno. Algumas vezes você ensina e todos os dias você aprende.

Todas as aprendizagens são importantes, mas sua relevância reside em quanto seu conteúdo é capaz de nos afetar e nos modificar, e em qual sentido fazemos isso.

Somos a história de nossos encontros interpessoais, somos saudáveis na medida em que são saudáveis as nossas relações. E as nossas relações são saudáveis quando nos completa, nos faz feliz para podermos fazer felizes aqueles que nos rodeiam.

O nosso “eu” é o resultado de nossas interações e de como as elaboramos dentro de nós. Nesse processo de afetar e ser afetado encontramos os valores culturais, e esses valores culturais têm o poder de nos moldar, propondo modos de pensar, de agir, de criar.

Através da cultura vivenciamos aprendizagens dos costumes, das práticas sociais, da visão de mundo dominante, que podem ser transmitidas, tanto pela família, como pelos meios de comunicação.

A mídia informa fatos, acontecimentos, e muitas vezes passa despercebida, pela população, a crítica reflexiva sobre as distorções culturais e as inversões de valores, as injustiças sociais, individuais e coletivas. É preciso observar a direção da seta lançada.

É preciso verificar os fatos, ir a fundo das ideias transmitidas. Esse movimento de verificação impede que sejamos inocentes úteis nas mãos manipuladora das forças dominantes.

Precisamos estar atentos, quando não podemos agir concretamente, podemos oferecer debates sobre concepção de homem e de mundo, debates sobre a realização do homem na sociedade escrevendo um projeto de vida no curso da construção da história social, ser protagonista de si mesmo, ser responsável pela sua vida e pela vida coletiva. Os indivíduos precisam estar capacitados a exercer a crítica em relação à cultura e às suas práticas. Quando se debate a formação ou a construção de uma filosofia de vida a centralidade está na concepção do ser humano e na sua humanidade construída socialmente no meio ambiente em que existem outros seres vivos. É preciso ter um sentido de vida repleto de significados que ampare a existência do ser humano, para que o vazio existencial não se instale. Estamos aqui e agora. O que vamos fazer com isso? Que valores estamos atribuindo a essa existência? É preciso refletir! A alegria e o sentimento de autorrealização depende desses valores vividos. A verdade e o amor, na sua mais ampla concepção, são os pilares da saúde mental e das relações sociais.

Estamos em constante movimento, interno e externo, que nos convida a aprender a aprender, porque esse processo é eterno, e a existência tem suas etapas, suas fases e seus desafios a serem vencidos e as conquistas a serem realizadas. Precisamos nos conectar com o mundo dinâmico o tempo todo e para isso desenvolvemos capacidades e colocamos em prática habilidades construídas a todo momento de forma cumulativa de conhecimentos, de repertórios, de bagagem cultural, social, de forma vivida. Sócrates já nos ensinava que quanto mais aprendemos, menos sabemos. Não podemos ser apenas expectadores da construção da nossa história, precisamos ser protagonistas da nossa vida.

Dessa forma ao se tornar humano desenvolvemos a habilidade e a capacidade de aprender cada vez mais dando espaço para a curiosidade aprofundar conhecimentos acumulados e outros que irão se constituindo, aumentando nosso repertório, não só de conteúdos mas de inter-relações sociais e humanas quando podemos olhar o outro como reflexo de nós mesmos.

Sandra Saleti Batista de Pádua é Mestre em Serviço Social na área de fundamentos da vida pela PUC/SP.