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O uso e comercialização de álcool em gel clandestino

30 de Maio de 2020 às 00:01

Éric Diego Barioni

Em tempos de pandemia de Covid-19, causada pelo novo tipo de coronavírus, o SARS-CoV-2, a apreensão policial de produtos clandestinos, tais como “álcool em gel a 70%”, tem sido cada vez mais frequente. Sabidamente, além da lavagem das mãos com água e sabão, a utilização de álcool em gel a 70% é efetiva contra o vírus e, ainda, diferentemente do álcool líquido a 70%, o álcool em gel traz adicionalmente ao consumidor propriedades que impedem o ressecamento das mãos, após o uso do produto. O não ressecamento das mãos protege a pele de lesões, que podem favorecer o desenvolvimento de infecções secundárias.

Com a pandemia de Covid-19, o álcool em gel a 70% rapidamente se esgotou e o preço da substância se elevou nas prateleiras. Certamente este foi um dos gatilhos que incrementaram a produção e comercialização de produtos piratas. Em um dos casos de apreensão, que foi noticiado pela mídia, os responsáveis pela fabricação dos produtos clandestinos utilizavam o combustível etanol. Estas preparações caseiras, entre muitos outros fatores, carecem de controle de qualidade, e a população em geral que faz uso destes produtos fica exposta aos riscos de desenvolvimento de lesões de pele, que poderão não somente incrementar a possibilidade de desenvolvimento de infecções bacterianas secundárias, mas também aumentar os riscos de contaminação pelo novo tipo de coronavírus.

Esta situação alarmante que vemos agora, entretanto, não iniciou com a pandemia, e muitos são os produtos clandestinos utilizados para limpeza e desinfecção que são comercializados sem a devida fiscalização. Geralmente estes produtos são comercializados inadequadamente em garrafas de refrigerantes e são utilizados para a limpeza e desinfecção de áreas domésticas. Estes produtos piratas são fabricados em locais improvisados e não atendem às normas sanitárias vigentes e às boas práticas para a fabricação de produtos saneantes domissanitários.

Saneantes domissanitários são produtos como água sanitária, amaciante, desinfetante, entre outros. Produtos químicos perigosos que devem ser utilizados com cautela. Os saneantes domissanitários industrializados, que são encontrados nas redes de supermercados e lojas especializadas contêm rótulos nas embalagens, e nos rótulos todas as informações de segurança e uso são facilmente apresentadas. Produtos clandestinos, ao contrário, carecem de informações, que são essenciais. Acidentes domésticos envolvendo a ingestão acidental de produto clandestino são comuns, principalmente entre crianças, e o tratamento médico nestas situações encontra, entre os muitos desafios, o de lidar com uma ou mais substâncias de origem e concentrações desconhecidas. É certo que muitas pessoas retiram destes produtos clandestinos o seu sustento, mas infelizmente após a morte, diferentemente do que existe para quem produz e comercializa, não existem outras possibilidades.

Por fim, ao adquirir o álcool em gel a 70% ou algum produto saneante domissanitário, verifique na embalagem os itens a seguir: i) nome do fabricante ou importador com endereço completo, telefone e o nome do técnico responsável pelo produto; ii) a frase “Produto notificado na Anvisa” ou o número do registro do produto no Ministério da Saúde; iii) a frase: “Antes de usar leia as instruções do rótulo”; iv) avisos sobre os perigos e informações de primeiros socorros; v) o número de telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) e do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIAT), entre outros. Fique atento e faça a sua parte, a saúde de todos e o meio ambiente contam com você.

Éric Diego Barioni é professor e coordenador do curso de Biomedicina da Uniso, Delegado do Conselho Regional de Biomedicina da 1ª Região (CRBM-1) na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) e Conselheiro do CRBM-1. ([email protected])