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O tremor piora a qualidade de vida

26 de Junho de 2019 às 00:01

Crédito da foto: Divulgação

Mário Cândido de Oliveira Gomes

As pessoas portadoras de tremor deixam de frequentar certos lugares públicos, como restaurantes e bancos, por constrangimento, vergonha ou frustração diante das dificuldades provocadas por esses movimentos anormais. O tremor desagradável, involuntário, rítmico, em geral começa pelas mãos, sobe para os braços, cabeça, etc, podendo comprometer uma ou várias partes do corpo. Inicialmente passa despercebido, porém, com o tempo atrapalha ou dificulta a habilidade manual, gerando incapacidade, insegurança e ansiedade.

Nessa altura, afim de evitar constrangimento social, muitos deixam de se alimentar em lugares públicos ou escrever na frente de terceiros. Tais pessoas receiam serem vistas como angustiadas, nervosas ou viciadas no álcool. Acontece que o álcool em pequena quantidade tem efeito benéfico na redução do tremor, assim como o sono.

A taxa de tremor na população varia de 0,0005% a 1,7%, aumentando para 0.4% a 5,6% acima dos 40 anos de idade. O movimento oscilatório do tremor decorre da contração síncrona ou alternante de músculos antagônicos, sendo a forma mais comum de movimento anormal. Pode ocorrer em numerosas enfermidades, como a doença de Parkinson, envelhecimento, ingestão de medicamentos (teofilina, fluoxetina, lítio, anticonvulsivantes, cafeína, anti-hipertensivos, etc) ou apresentar fundo genético. Quando não se consegue identificar a causa fala-se em tremor essencial ou “benigno”, que é o mais comentado.

Muitos fatores podem influenciar a intensidade do tremor essencial, tais como fadiga, extremos de temperatura, alterações emocionais, estimulantes do sistema nervoso central, flutuações diurnas nos níveis de catecolaminas e tabagismo. O portador de tremor apresenta ao exame neurológico dos membros superiores um típico tremor de ação (durante uma contração voluntária) e de postura (manutenção de uma postura). Aliás, a forma mais característica de tremor essencial é o movimento de flexão/extensão dos dedos e das mãos, e a atividade mais comprometida, a escrita. Com efeito, a grafia fica trêmula, com letras irregulares e grandes, ao contrário das letras pequenas observadas no Parkinson.

Também pode haver dificuldade para segurar o copo ou a xícara durante a ingestão de líquidos, ou talheres para a alimentação, levando os pacientes a criar manobras para minimizar a incapacidade, como o uso de colher, canudo ou da mão menos comprometida. Para avaliar o grau de prejuízo causado pelo tremor existem duas provas: desenho da espiral de Arquimedes e a medida do volume de água durante a ingestão do líquido ou na passagem de um copo para outro. Depois das mãos, a região mais acometida é a cabeça (20% a 50%). Também pode atingir os músculos da fonação, causando alterações da voz e da fala.

De modo geral, a incapacidade gerada pelo tremor é leve, podendo ser controlada ou suprimida no início da enfermidade. Com o tempo, o controle voluntário vai ficando mais difícil e compromete, lenta e progressivamente, todos os movimentos, o que provoca forte impacto psicológico. Até o momento não foi identificada nenhuma doença ou lesão estrutural do sistema nervoso central, mas parece que o problema está na oliva, que é uma estrutura localizada no bulbo do cérebro.

As opções de tratamento disponíveis para o tremor essencial incluem medidas físicas, psicológicas, medicação para atenuar o tremor (propranolol, primidona, fenobarbital, benzodiazepínicos, etc), quimiodenervação com botox e até cirurgia (talamotomia e estimulação cerebral profunda). Para a maioria dos pacientes a medicação é suficiente para atenuar ou eliminar o problema. Portanto, o tremor é uma condição limitante, que altera a qualidade de vida, acarreta distúrbios psicológicos e desajuste social. Por isso não deve ser subestimada.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.