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Vanderlei Testa

Há gente que coloca o despertador embaixo do travesseiro para dormir só para acordar com a cabeça em cima da hora! Quando acordo de manhã, busco olhar o horário no relógio do celular. Também aprendi a treinar o meu cérebro em ser o despertador. Nem sempre dá certo. Não somos donos do tempo. Em recente live com a participação de dom Julio Endi Akamine, ele citou que podemos experimentar o tempo. O Chronos (Cronos) é o senhor do tempo cotidiano. Na mitologia grega o Cronos é aquele que nós medimos em horas, dias, semanas, meses e anos. O relógio que ilustra o artigo é uma relíquia da Itália dos meus avós que trouxeram em 1885.

Não importa a marca do relógio ou outro meio de acompanhar as horas do dia. Sabemos que o tempo passa e fica para trás a cada segundo que vivemos. Puro passado. O momento presente segue em frente e nesse caminho dos segundos e minutos nossas vidas envelhecem num piscar de olhos. A verdade é que nunca pensamos na vida com tempo de validade. Quem acha que tem todo o tempo do mundo precisa ler a necrologia diária aqui no jornal. A Covid-19 tem levado no mundo milhares de pessoas por dia a perderem as suas vidas. Quantas dessas vítimas passaram seu tempo correndo atrás de riquezas materiais e até brigas em família por heranças. A oportunidade de amar e conviver com a família, em especial, com os filhos para conversar e brincar, educar, ser amigo, não será mais possível. O tempo passou e levou por um micro e invisível vírus o que poderia ser uma experiência humana única.

Talvez seja esse o motivo de existir o Kairós para vivermos o tempo como graça, encontro e liberdade. O amigo Edy Casagrande viveu com intensidade a vida ao lado da esposa Eva e filhos. Em agosto foi ao encontro do Criador. Exemplos como o do Edy em sua jornada nas ações que realizou na comunidade do Jardim Iguatemi serão eternizados. Dom Julio afirmou que o tempo é superior ao espaço. Com essa reflexão de tempo e espaço, podemos pensar que somos seres temporais e donos da própria história. Sem isso perdermos a nossa identidade. Como disse, estou aproveitando meu novo tempo com leituras. Em uma delas, encontrei no livro do Eclesiastes uma passagem que nos faz pensar muito no tempo Kairós. Os santos escreveram livros contando suas experiências do uso do tempo em suas vidas. Principalmente no tempo usado para se doarem às outras pessoas, como fez São Francisco. Quem pratica o Kairós, há a recompensa e sensação de gratidão, principalmente de entes queridos presentes em suas vidas. Não é simplesmente estar junto fisicamente com o ser amado. É o estar de coração. Esse tempo Kairós vividos com amor e doação faz a diferença neste Planeta Terra onde cada vez mais o ser humano se torna escravo das horas.

Se você topar seguir adiante na leitura deste artigo, compartilho a maravilha do texto escrito pelo rei Salomão: “Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-la...”. O meu amigo João Marcos Andrietta, morador da cidade de Salto (SP) é um empresário que se dedicou a viver o seu tempo com plena entrega humanista. Vicentino há mais de 45 anos, sempre encontrou o Kairós na Sociedade São Vicente de Paulo, na Congregação da Missão e em movimentos religiosos católicos. Ele ama a vida e a família. Há cerca de dez anos, teve inicio na sua história um tempo de provação extrema com a enfermidade ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). Nestes anos, João Marcos vem superando o que poucas pessoas no mundo conseguem com o diagnóstico ELA, tirando de si todos os movimentos do seu corpo. Em uma cama UTI adaptada em sua casa, cercado do amor da esposa e filhas e acompanhamento médico, João Marcos tem na fé em Cristo os seus momentos de partilha de uma experiência com Deus. Seus 60 anos de vida são lindo testemunho, desde que em junho de 2009 teve confirmada e o início de sua doença. Segundo João Marcos relatou em seu livro, ele iniciou uma convivência do tempo nas 24 horas do dia, entre a doença incurável pela medicina e a renovação das forças, com coragem na luta pelo dom da vida. Era o momento de viver. Jamais perdeu a esperança e a fé. E mesmo nessa situação extrema, com os olhos brilhantes, ele conversa por piscar suas pupilas com a esposa que lê seus movimentos e traduz em palavras: “que possamos cada vez mais praticar a caridade, ser intensos em gestos de amor para com o outro, sem esperar nada em troca”. O tempo futuro do João Marcos depende também de você. Faça uma prece pela sua cura. Será um tempo de gratidão que você usa pelo dom da vida do amigo João. Juntos, seremos mais de vinte mil pessoas intercedendo por ele, como muitos amigos fazem nestes 10 anos pedindo a intercessão do padre Henry Caffarel pela sua cura.

Vanderlei Testa jornalista e publicitário escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados no www.blogvanderleitesta.com e www.facebook.com/artigosdovanderleitesta