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O telefone da Maria Peres

29 de Setembro de 2020 às 00:01

O telefone da Maria Peres Crédito da foto: Vanderlei Testa

Vanderlei Testa

Maria Cayeela Peres. Professora aposentada. Moradora da rua Campos Sales. Sua idade, 83 anos. Essas foram às primeiras informações que ouvi ao perguntar à leitora, que gentilmente me liga todas às terças-feiras às nove horas, após ler o artigo no jornal Cruzeiro do Sul. A sua simpatia, de uma senhora com a voz meiga das oito décadas de vida, nos toca o coração. Ela sempre me conta as suas histórias relacionadas aos temas que abordo semanalmente. Seus pais, tios, sobrinhos e demais familiares estão envolvidos com os fatos de Sorocaba desde o início do século 20. É fascinante ouví-la relatar com detalhes os nomes das pessoas que cito nos artigos e a relação que ela, ou sua família, teve com os homenageados. Sobre o texto da última terça-feira, dia 22, das etiquetas e fundação da fábrica de enxadas NS Aparecida, em 1937, a Maria Peres citou que foi nesse ano que ela nasceu na rua Cervantes. Contou que morou até os seus 21 anos de idade no bairro Caputera e usou as enxadas Coringa para trabalhar com os pais.

Angelina Peres Minhoto e Pedro Cayeela vieram da Espanha ao Brasil em 1915. Tiveram três filhos. Em uma área de plantações de cebolas, alho, milho, feijão, mandioca e batata doce, o casal inovou em produtividade nos anos de 1940. Foi nesse tempo que a filha Maria acompanhou seus pais, ajudando-os nas colheitas. Ela se lembra de quando o pai levava na carroça a batata-doce para vender na fábrica de doces Beija Flor. Em sua memória privilegiada em guardar detalhes dos fatos antigos, citou sobre a troca das ferraduras dos cavalos, que eram feitas por seu pai na rua Cel. Nogueira Padilha. Era a ferraria do Guerino, ao lado da sapataria Teodoro, descreveu a Maria. E sempre com o entusiasmo semanal das suas palavras.

Sua formação escolar começou na escola do bairro Árvore Grande. Em 1952, Maria tinha 15 anos de idade. Vinha caminhando da Caputera até a Escola Técnica Rubens de Faria e Souza (Etec), da rua Comendador Pereira Inácio. Para chegar a tempo de assistir a primeira aula, saia às seis horas da manhã de casa. Acordava às cinco horas. Caderno e lanchinho na sacolinha de pano e perseverança no seu objetivo, Maria Peres participava das aulas com as professoras Isabel Crespo, em aulas de ciências, Zilá, de português e, do professor Luizito Marins, em exercícios de educação física. O coordenador da escola era o professor Diógenes Marins. Já com 18 anos de idade, ela conseguiu emprego na Indústria Têxtil Barbero. Começou como escriturária e desempenhou durante seis anos suas atividades na empresa de tecelagem de linho.

Sua meta em ser professora a levou estudar em Avaré, na Faculdade de Pedagogia. Depois de formada, lecionou na Escola “Ossis Salvestrini Mendes”, em Sorocaba. Antes, porém, teve que fazer uma verdadeira peregrinação em escolas de várias cidades, como: em Araçoiaba da Serra, Itaporanga e Votorantim.

Há 28 anos, como professora aposentada e solteira, agradece a Deus pelo seu dom da vida com a alegria de viver com os seus sobrinhos, sendo uma verdadeira avó em bondade e, de uma energia vibrante em amor às pessoas. Ela já foi procurada por escritores para relatar os detalhes da sua história. Entre os livros, “Os Espanhóis” têm os seus comentários de origem da família Cayeela na cidade de Almeria, na Província de Andaluzia. Maria vive há 52 anos no bairro Além Ponte. Ela conhece na “palma da mão” cada rua e o que já existiu no passado em seus comércios e indústrias. É o caso de uma fábrica de sinos na rua Cláudio Furquim. A fundição Sinos Samassa forneceu em 1947 os sinos da Catedral de Sorocaba. Também disse da fábrica de arado e de bico de arado, na rua Cel. José Tavares. Sobre essa empresa, recorda que seu pai, Pedro, comprava os equipamentos para separar a terra da sua plantação em dois lados. Com a grade alisava o terreno para o plantio de suas cebolas e batata doce.

Maria Peres destacou que em 2019 o jornal Cruzeiro do Sul fez uma reportagem sobre a sua origem espanhola. Guarda essa data e notícia com muito orgulho, entre os seus pertences de família. Uma de suas histórias é sobre a fábrica de chapéus do Antonio Amábile. Ele produzia para Sorocaba e região os chapéus mais usados pela sociedade. Sua empresa era na rua Souza Pereira. Empresário visionário em negócios adquiriu o local do casarão dos irmãos Lacerda para montar o Hotel Vicente, ao lado do Grupo Escolar Visconde de Porto Seguro. Vale lembrar que logo na redondeza do hotel, tinha a praça Ferreira Braga. Já foi conhecida como Largo das Tropas e do Rosário. Pela proximidade com a estação da Estrada de Ferro Sorocabana e o grande número de vendedores que vinham a Sorocaba para comercializar os seus produtos, houve a necessidade da construção de hotéis. Surgia ali o Hotel da Estação, em 1884, Hotel Paulicéia, Hotel do Comércio e o Hotel Vicente.

A nossa gratidão aos leitores que enviam mensagens sobre cada artigo publicado. Como a dona Maria, dezenas de outras pessoas se manifestam com as suas sensibilidades, os sentimentos das leituras. O Mario Osamu Hayakawa enviou o seguinte comentário sobre “A enxada que plantou sementes de vida”: “Lendo o artigo, lembrei-me do meu falecido pai, Megumu Hayakawa (1911-1997). Quando ele veio ao Brasil, trabalhou na agricultura (décadas de 30 e 40), e a primeira enxada que ele trabalhou foi com a marca Coringa. E, agora, o meu neto estuda justamente na Escola Leonor Pinto Thomaz. Portanto, estou ligado com a fábrica em toda a geração”.

Vanderlei Testa, jornalista e publicitário, escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados no www.blogvanderleitesta.com e www.facebook.com/artigosdovanderleitesta - WhatsApp 15 997827561.