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O santo brasileiro que morou em Sorocaba

15 de Dezembro de 2020 às 00:01

O santo brasileiro que morou em Sorocaba Crédito da foto: Arte / VT

Vanderlei Testa

Em dezembro, todos nós somos levados a uma espiritualidade de fraternidade cristã com a celebração do Natal. Hoje dia 15, a dez dias do Natal, o espírito natalino se faz mais presente em gestos e exemplos de santidade daqueles que viveram o amor cristão no mundo. Exemplo recente de manifestação desse dom de amor é o caso do jovem canonizado Carlo Acutis. Entre as comunidades religiosas no Brasil, encontramos o testemunho de Santa Irmã Dulce dos Pobres, Santo padre José de Anchieta, Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, São Roque Gonzales, Santo Afonso Rodrigues e São João de Castilho, mártires do Rio Grande do Sul. Há também os vinte e cinco homens e cinco mulheres, mártires do Rio Grande do Norte.

Os franciscanos fazem parte da história de Sorocaba. Em especial do bairro Além Ponte e da Vila Santana. Há mais de cem anos os freis alemães vieram a Sorocaba para serem missionários na igreja de Santa Rita e na igreja do Bom Jesus. Os moradores antigos da cidade se lembram com detalhes dos freis em seus momentos de infância e juventude. Basta ver as postagens nas redes sociais com citações e celebrações nessas paróquias. Atualmente convivo com o frei Gilberto Marcos Piscitelli. Ele é da paróquia do Bom Jesus. Um ser humano que segue os passos de São Francisco de Assis, em sua conduta simples e evangelizadora. Minha infância e juventude tiveram momentos marcantes com os franciscanos. Desde o meu batizado, pelo frei Jorge, até a primeira Eucaristia. Durante quase trinta anos fui participante dessa paróquia no bairro do Além Ponte, na rua Coronel Nogueira Padilha.

Os bons exemplos, no Brasil e no mundo, vindos dos franciscanos também chegaram à minha família. Um dos primos, filho de uma irmã de meu pai, seguiu a vida religiosa como frei. Meus pais viveram mais de 80 anos na rua Santa Maria e sempre foram ligados a essa congregação franciscana. Na minha infância e juventude era frequente a presença dos freis em minha casa.

A vida do Frei Antônio de Sant’Anna Galvão, um homem santo que pisou o chão de Sorocaba quando morou dois anos na cidade -- de 1809 a 1811 -- é um testemunho real da sua presença humana junto aos moradores. A fé dos sorocabanos desde a fundação da cidade, com a capela de Sant’Ana, é um marco religioso de acolhimento ao Frei Galvão. Certamente, o franciscano santo andou onde agora é a praça Cel. Fernando Prestes e a rua São Bento, onde se localizava o convento de Santa Clara. Foi lá para orar e celebrar missas no Mosteiro de Santa Clara. Deve ter circulado com suas sandálias de frei nas estradinhas de terra da Sorocaba para evangelizar nas periferias.

Frei Galvão foi canonizado pelo papa Bento XVI e é um dos primeiros santos brasileiros. Sua história de vida remonta a uma infância em Guaratinguetá, no interior de São Paulo.

O bebê Antônio nasceu há 281 anos, no dia 13 de maio de 1739. Dia das aparições de Nossa Senhora de Fátima. Há 198 anos o Frei Galvão faleceu.

Foi em 23 de dezembro de 1822. Tinha 83 anos de idade. Sua vida foi dedicada às causas de evangelização. Em 11 de maio de 1977 o papa Bento XVI presidiu, no Vaticano, a celebração que o elevou à santidade. Um santo brasileiro.

Escolhido por seus milagres, Frei Galvão é conhecido no Brasil por inúmeras graças alcançadas pelos seus devotos. As “pílulas do Frei Galvão” continuam até hoje a serem usadas pelas pessoas de fé que buscam a cura. As chamadas pílulas de Frei Galvão são feitas de papel. Segundo a tradição centenária dos devotos, deve-se fazer uma novena juntamente com a ingestão das pílulas.

Conta à história que a Novena de Frei Galvão e as pílulas se originaram de dois casos de risco de vida: o primeiro, foi o de uma parturiente; o outro caso, de um rapaz com enfermidade nos rins. Por não poder acudir pessoalmente, Frei Galvão escreveu em latim uma jaculatória em um pequeno pedaço de papel, que enrolou e recortou em forma de pílulas, pedindo que as dessem aos doentes. Tanto o rapaz como a parturiente e seu bebê se salvaram, daí partindo a extraordinária fama das pílulas e a notável fé que os devotos nelas depositam.

As pílulas de Frei Galvão trazem escritas jaculatórias como essa: “Pos partum, Virgo, Inviolata permanansisti. Dei Genitrix, intercede pro nobis” (Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta! Mãe de Deus rogai por nós).

Antônio de Sant’Anna Galvão (Frei Galvão) foi educado por pais religiosos. Antônio viveu o batismo primeiro em casa e, ainda jovem, sentiu o chamado para a vida religiosa e entrou para o seminário, a princípio jesuíta e depois para os franciscanos. Por causa de sua sabedoria nos estudos, ingressou na ordem dos frades menores e, depois de pouco tempo, recebeu a ordenação sacerdotal. Humilde, desempenhou várias funções na congregação franciscana: porteiro, confessor e pregador.

Frei Galvão foi confessor numa casa de recolhimento, enfrentando resistências de governantes e políticos, que queriam fechar a casa religiosa. O Mosteiro da Luz de São Paulo faz parte da história do Frei Galvão, desde quando ele era um dos confessores que atendiam as pessoas. Nessa época, enfrentou pressões políticas para fechar a casa religiosa, não se submetendo aos interesses dos governantes para manter o Mosteiro.

A cadeira que Frei Galvão usava em Sorocaba está no museu de arte sacra da Catedral Metropolitana. Ela representa uma relíquia sagrada da história de sua passagem pela cidade, onde os sorocabanos católicos reverenciam a sua santidade. Na Vila Santana, em sua homenagem, encontramos a rua Frei Galvão, uma das vias mais conhecidas do bairro.

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados no www.blogvanderleitesta.com e www.facebook.com/artigosdovanderleitesta