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O recado que as urnas não deram

02 de Dezembro de 2020 às 00:01

Roque Dias Prestes

Nunca antes, na história política de Votorantim, houve tanto desinteresse pelas eleições municipais, como nesta do último dia 15 de novembro. Para ser mais exato, totalizaram 5.058 votos em branco, 5.571, nulos e 23.142 abstenções!

Está certo que esta foi uma eleição atípica -- por conta da pandemia do novo coronavírus --, mas, a Justiça Eleitoral tomou todas as medidas de segurança possíveis para preservar a saúde dos eleitores.

Por isso, esse alheamento e a falta de interesse dos eleitores não devem ser creditados apenas à necessidade do isolamento social. Até porque, há um bom tempo, a população já não está cumprindo essa determinação das autoridades sanitárias, a risco. Porém, outros fatores devem ser sopesados, como, por exemplo, o descrédito que muitos políticos provocaram na população, a sensação de impunidade que disso resulta e muitos mais.

Entretanto, no cenário local, a soma de 34.871 eleitores que não quiseram aproveitar o seu voto, causa uma grande preocupação. É sabido que o voto é uma poderosa arma no regime democrático de direito e, através dele, o cidadão tem o poder de escolher o candidato que reuna as melhores condições para administrar a sua cidade e também eleger os vereadores, os quais terão a incumbência de fiscalizar a atuação do novo prefeito municipal, encaminhar indicações e requerimentos, projetos de leis -- discutindo e votando-os -- de interesse da população nos próximos quatro anos.

Uma explicação razoável -- e que não pode ser descartada -- é a de que nada obstante, sete candidatos concorreram ao cargo de prefeito de Votorantim nestas últimas eleições, ao que parece, esses quase 35 mil eleitores desejavam outros nomes para analisar se mereciam os seus votos.

Na verdade, outro fator que não pode ser descartado, diz respeito à ausência da formação de novos líderes políticos, pelo menos nas últimas quatro décadas, sem nenhum exagero.

Isto é explicado pelo controle exercido pelos velhos caciques da política local, os quais, nesse longo período, não abriram mão da principal cadeira no Paço Municipal, dificultando que ela fosse ocupada por alguém estreante na chamada vida pública.

Sem dúvida, o simples fato de as eleições serem realizadas, em todos os níveis, a cada quatro anos é uma demonstração de que a alternância no poder é salutar, sendo uma das principais características do regime democrático de direito.

Mais do que isto, caso o novo administrador do município tenha sido eleito por outro partido, não há de desejar seguir o mesmo roteiro de trabalho daquele, cujo mandato expirou, a não ser dar sequência às obras em andamento que sejam do real interesse da população.

Não é exagero dizer que, infelizmente, Votorantim está parada, no tempo e no espaço, há vários lustros.

É uma pena que as gerações mais novas não sejam testemunhas oculares da história, como soe acontecer com os votorantinenses mais antigos.

Logo após a emancipação de Votorantim, que ocorreu no dia 1º de dezembro de 1965, e a instalação do município, em 27 de março de 1965, em poucos anos, esta cidade justificou que o seu desmembramento de Sorocaba. Valeu a pena.

Até lá, por volta dos anos 80, Votorantim, nos quesitos número de habitantes, social e econômico, não ficava muito atrás de Itapetininga, Itu e algumas outras cidades, as quais deslancharam e estão anos luz à nossa frente.

Não é preciso ser especialista em Economia, ou em qualquer outra ciência correlata, para se chegar à conclusão de que a visão administrativa bitolada -- e até retrógrada -- de alguns ex-prefeitos de Votorantim impediu que esta cidade prosseguisse em seu ritmo normal de crescimento, como vinha acontecendo até algumas décadas passadas.

Entretanto, como não se deve chorar o leite derramado, cabe ao eleitor melhor informado, nas próximas eleições, atentar bem para as propostas dos candidatos ao cargo majoritário na política local, sem descuidar de exercer a seleção natural das coisas: alijar da pugna eleitoral, eventuais candidatos que já deveriam estar aposentados.

Quem sabe, as próximas eleições locais não resultem em tantos votos em branco, nulos ou abstenções.

Como o período de quatro anos passa muito rápido, fica a deixa para outros cidadãos neófitos participarem do próximo pleito.

Desta vez, faltou o recado que as urnas não deram.

Roque Dias Prestes e advogado, escritor, jornalista, professor aposentado e presidente da Academia Votorantinense de Letras, Artes e História.