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O que é valioso desmancha no ar

22 de Setembro de 2019 às 00:01

Carlos Brickmann

Há poucos dias, no sábado (14), fez um ano que a Polícia Federal apreendeu, no aeroporto de Viracopos, SP, 19 malas com dinheiro e objetos de luxo. No total, algo como US$ 20 milhões. Era a bagagem de Teodorin Obiang, filho de Teodoro Obiang, há mais de 40 anos presidente (e homem mais rico) da Guiné Equatorial.

Que é que Teodorin veio fazer no Brasil, tão perto das eleições, com tanto dinheiro e tantos objetos de valor? Nas investigações da Lava Jato, a Guiné Equatorial é sempre citada como parceira preferencial de empreiteiras brasileiras, aquelas que acompanhavam as viagens de Lula à África e ganhavam gordas concorrências, com o financiamento do BNDES.

Os relógios trazidos nas malas de Teodorin eram fantásticos: caixas de ouro ou platina, amplamente guarnecidas de brilhantes, de grandes marcas. Relógios ocupam pouco espaço, valem muito, podem ser transformados em dinheiro com facilidade. A propósito: onde estão as joias e relógios trazidos às vésperas das eleições pelo vice da Guiné Equatorial? E o dinheiro, em dólares e reais? Não se fala mais no assunto? Não ficou claro nem quem iria se beneficiar de objetos tão valiosos!

Há quem diga que era a contribuição da Guiné Equatorial a seus candidatos favoritos -- mas não há prova alguma disso, devem ser apenas comentários maliciosos. De qualquer forma, seria interessante saber se o dinheiro e os objetos de valor estão sob custódia, ou foram devolvidos a quem os trouxe. Imagine, joias tão lindas sumindo no ar!

Rico, rico, rico

Claro que se pode dizer que o assunto não tem a menor importância, que a imprensa canalha faz tempestade em copo de champagne. Afinal, nada é tão normal quanto um país que está em 144º lugar em Índice de Desenvolvimento enviar seus governantes com malas de joias e dinheiro para uma visita turística a uma nação amiga -- onde o turismo deve ser caríssimo.

Vergonha pouca...

Pesquisa da Câmara Federal mostra que 71% dos juízes do país ganham mais que o teto constitucional de R$ 39,2 mil. Recebem auxílio-moradia e auxílio-alimentação, muitas viagens com boas diárias, penduricalhos diversos. E, na última semana, o Conselho Nacional de Justiça permitiu que o auxílio-saúde (10% do salário-base de desembargador) não espere ninguém ficar doente: já pode ser pago em dinheiro, mesmo sem problemas de saúde. O colunista Claudio Humberto (www.diariodopoder.com.br) lembra que, há três anos, o Senado aprovou projeto que limitava os super-salários. Agora o projeto está na Câmara, onde dorme esquecido.

...é bobagem

O deputado federal gaúcho Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara, usou dinheiro de sua cota parlamentar para visitar o ex-presidente Lula, que está preso em Curitiba. Desde que tenha alguma relação com o exercício do mandato, a cota parlamentar pode cobrir viagens nacionais, seja para onde for. A assessoria de Pimenta diz que foi a uma atividade do PT paranaense, em Curitiba. E aproveitou a oportunidade para pedir instruções na cadeia. Por que deixaria Haddad com o monopólio das conversas do cárcere?

Questão de prioridade

O governador João Doria inaugurou novas e amplas instalações para o 8º Distrito Policial do Brás, em São Paulo. Foram investidos R$ 4,6 milhões nas obras -- parte, ao que dizem, de R$ 100 milhões oferecidos pela Febraban, Federação Brasileira de Bancos, para reformas de distritos policiais, tudo, é claro, sem interesse algum. O DP reformado ficou bonito, bem mobiliado, mas talvez não seja esta a maior necessidade da Polícia Civil paulista. Nela, faltam preencher 24 mil vagas, faltam coletes à prova de bala, há coletes com prazo de validade vencido. E o salário dos policiais civis é o mais baixo do Brasil, embora trabalhem no Estado mais rico do país. Delegacias bem montadas e bem equipadas são um excelente cartão de visita. Mas polícia é mais do que isso: exige salários, equipamentos, ciência, quadros completos.

Petróleo sem problemas

O ataque a refinarias sauditas, seja iniciativa iraniana (que disputa com a Arábia Saudita a liderança do Oriente Médio árabe), seja iniciativa dos rebeldes iemenitas contrários ao regime de seu país, apoiado pelos sauditas, está sendo considerado um problema passageiro. Imagina-se que não haverá falta de petróleo, nem alta explosiva de preços. Imagina-se que a situação logo voltará ao normal. Se o que se imagina for otimista demais, há ainda a liberação das reservas estratégicas dos EUA. No Brasil, a Petrobras avalia a situação, mantendo preços. Os juros brasileiros devem cair mais um pouco.

Carlos Brickmann é jornalista. E-mail: [email protected]