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O perigo da aids na adolescência

12 de Dezembro de 2018 às 00:01

A maioria dos adolescentes possui informações corretas sobre as formas de transmissão da aids, assim como as medidas de prevenção. Porém, há um hiato entre o conhecimento e a adoção efetiva dessas medidas. Senão vejamos: um estudo realizado com 1.720 alunos, na faixa etária entre 14 e 19 anos, em escolas de segundo grau, mostrou um perfil atual das práticas sexuais. Foi observado que 63.7% tiveram sua primeira relação sexual entre os 14 e 16 anos. Entre os rapazes, 75% disseram ser sexualmente ativos, e 44% das moças. Quanto à idade da iniciação sexual, 35,7% dos rapazes começaram mais cedo, isto é, antes dos 14 anos, 28% aos 14 anos e somente 15,3% após os 16 anos. Entre as moças, 34% relataram sua primeira experiência aos 15 anos, 23,7% aos 14 anos, 8,7% antes dessa idade e somente 9,6% após os 16 anos.

O tempo da última relação também apresenta diferenças, pois, para 62,8% das moças e 35,8% dos rapazes ela ocorreu a menos de um mês. O período mais longo de abstinência (mais de cinco meses) foi relatado por 28,8% dos jovens e 16,3% das moças. O comportamento heterossexual foi predominante para ambos os sexos (98%), tendo 93,3% das moças conhecimento anterior do parceiro (sexo casual), enquanto para os rapazes foi de 75,1%.

Quanto ao número de parceiros sexuais, 76% das moças tiveram somente um nos últimos três meses, sendo de 42% para os rapazes. Todavia, 17,8% deles tiveram de dois a quatro parceiras. Em relação ao uso de preservativos, 86,8% dos rapazes e 70,6% das moças relataram ter praticado essa forma de prevenção, sendo que a aceitação do uso de camisinha, sem nenhum problema, foi confirmada por 93,2% dos rapazes e por 95,6% das moças. Os que não aceitam usar de “jeito nenhum” foi cinco vezes maior entre os rapazes, ou seja, 16,6%, contra 0,3% das moças.

Os conhecimentos a respeito da camisinha feminina foram referidos por 57% de ambos os sexos, mas a sua utilização na última relação foi mencionada por 3% dos rapazes e 2% das moças. Todavia, nas redes estadual e particular paulista foi encontrada uma maior prevalência de relações sexuais sem camisinha ou qualquer outro método anticoncepcional, mostrando uma maior exposição do jovem na aquisição das doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a aids, assim como gravidez precoce ou indesejada.

Entre as razões do comportamento sexual desprotegido foi mencionado desconhecimento do período fértil, uso incorreto dos anticoncepcionais ou a crença que na primeira relação sexual não há perigo de gravidez. Apesar disso, as moças valorizam mais a fidelidade e o sentimento do amor e, por isso, sentem-se menos capazes de negociar as práticas sexuais. Todavia, há uma incoerência entre a intenção e conhecimento do sexo seguro, em relação ao uso real do preservativo. Tal incoerência afeta a qualidade de vida dos adolescentes, tornando-os mais vulneráveis à infecção pelo HIV. Daí a necessidade de estratégias educativas que levem os estudantes a discutir e a refletir sobre a sua sexualidade, para aumentar a consciência sobre a vulnerabilidade à aids.

Entre conhecer a dimensão do problema e o uso prático e rotineiro desses conhecimentos, vai uma enorme distância. Por isso, os pais e os educadores devem conversar exaustivamente com os jovens sobre a relevância do tema.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.