O pão nosso quentinho de cada dia
Crédito da foto: Arte / VT
Vanderlei Testa
Recentemente publiquei um artigo da história sem fim das padarias de Sorocaba. A repercussão foi tanta que dezenas de comentários apareceram solicitando a citação das outras padarias que estão na lembrança e paladar dos leitores. Como se fossem pãezinhos quentes saindo do forno a cada hora. Desconheço a história de algumas padarias e de seus fundadores. Mas, praticamente, todas as padarias também fazem parte da minha memória. Sempre morei em Sorocaba e padaria é como a primeira professora que nunca esquecemos. No meu caso a padaria ficava a 50 metros da casa onde nasci. Chamava padaria “Santa Maria”. Depois mudou o nome para padaria “Bom Jesus”. O pão e o leite faziam parte da tigela que bebia e comia junto no final da tarde. Minha mãe contava que na época da guerra nos anos 1944 não havia pão para comprar e a dona Maria Antônia Rodrigues e seu marido Francisco Cano Guerreiro, da padaria Santa Maria, doavam um pãozinho à minha família. Era de farinha preta. A minha vizinha na infância Sônia Dini é uma das leitoras que se lembrou da padaria Santa Maria e de seus donos em anos de existência, como os membros da família Claudio Castilho e Osório Momesso.
No mesmo bairro da Vila Hortência havia a padaria “Cervantes”. Na Nogueira Padilha, a padaria “Dalva” ficou também conhecida por abrir em dias especiais para vender pães, como Natal e dia primeiro de janeiro. Estive nessa padaria várias vezes, pois era a única que estava aberta nesses feriados em todo o bairro. Na rua Campos Salles a padaria “União” do “seu Manoel” é histórica. Frequentei lá quando jovem e até viajei com a família para Mongaguá no carro do Manoel. Depois de sua morte o genro Ico assumiu a direção da padaria União.
Na rua Tereza Lopes, a padaria “Ciarella”, do Orlando e Sabina, ficou muito famosa por seus pães e doces. Cresceram tanto que acabaram mudando a padaria de nome em Santa Rosália. “Padaria Sabina”. Primeiro em uma esquina atrás do prédio do Saae e, depois, em amplas instalações na av. Pereira da Silva.
Relembrando sua história como moradora de Santa Rosália, Cristina Valério publicou o seu comentário do meu artigo no site do jornal Cruzeiro do Sul. Depois falei com ela. Ela disse, como bisneta de Nicola Perella que a primeira padaria do seu bisavô foi no centro de Sorocaba. Foi lá que os diretores de uma indústria têxtil do bairro Santa Rosália fizeram parceria com eles para produzirem os pães aos funcionários. Nicola, empresário visionário abriu em seguida na esquina da av. São Francisco com a av. Pereira da Silva mais uma “Padaria Perella”. Foi na época da fábrica Santa Rosália e, posteriormente, Cianê, da família de Severino e Carlos Pereira da Silva. Todos os pães fornecidos às indústrias têxteis e aos empregados eram da padaria Perella, conduzida pelo Nicola e filhos. Cristina tem orgulho dessa descendência que desenvolveu o bairro Vila Santana e Santa Rosália em vários comércios.
A Marisa Escarlete Ventrella é neta de Mário Ventrella da padaria “O Pão de Ouro”, que ficava na rua Álvaro Soares. Já o irmão Vicente Ventrella cuidava da padaria “Estrela de Ouro”, na rua Hermelino Matarazzo. Ela me contou que o seu avô Mário Ventrella e a avó Maria Barsanetti foi quem levou ao sucesso os pães diferenciados no início do seu comércio. Lembrou também que durante a guerra, o avô Mário forneceu pães ao front de guerra de 1940. Marisa também relatou que sua mãe Scarlet Ventrella participou na inauguração da padaria em setembro de 1960. Monsenhor Francisco Antônio Cangro- carinhosamente conhecido como padre Chiquinho deu as bênçãos. A padaria “O Pão de Ouro” foi muito relembrada nas mensagens que recebi. A população sorocabana tem um carinho especial por essa histórica padaria e reconhece que a família Ventrella é ícone vitorioso entre as primeiras padarias de Sorocaba, contou Paulo Mendes, ex-prefeito que na época tinha 12 anos e estava com os seus pais na inauguração. .
Faz parte das emoções dos leitores, a padaria “Estrela de Prata”, no bairro da Vila Santana. A “Padaria Shereppel” na rua de São Bento revive na memória a qualidade de sua produção de pães e bolos e o ambiente acolhedor dos donos. No bairro Vergueiro a família Catanni é um marco na história das padarias de Sorocaba. Há também muitas citações da “Padaria Americana” da rua Cel. Benedito Pires. Sua localização perto do Mercado Municipal e o atendimento diferenciado sempre atraíram os consumidores. Essa padaria tem uma história familiar de pais para filhos desde o início até hoje.
Na região da zona Leste na rua João Ferreira da Silva a padaria “Nosso Pão” , segundo a leitora Inês Monteiro, faz parte das lembranças inesquecíveis da sua vida. Na av. São Paulo a tradicional “Padaria da Lua” era imbatível com a sua história de movimentação de clientes Ela deixou de existir, mas ficou como marca símbolo de pães e tudo o que oferecia de segunda a domingo.
Lucia Todesco escreveu uma mensagem relatando que sua irmã Zuleide Acosta Paschoal trabalhou na “Padaria São Luiz”. Contou que essa padaria iniciada no centro de Sorocaba nos anos 1900 teve vários donos. Lucia citou que quando ela tinha 14 anos de idade também trabalhou na mesma padaria. Já na época do seu emprego os donos eram os irmãos Rabano.
A “Padaria Santa Rosália” também é de gerações do ramo de panificação desde 1974. A Fátima Piveta, uma das proprietárias é inovadora em lançamentos de novidades nas padarias que administra. Ela chegou a receber o prêmio Rich’s as 100 melhores padarias do Brasil concedido pela revista Panificação Brasileira.
Padaria “Bello Pão” na av. Ipanema, padaria “Flamboyant” dos irmãos Sergio e Beto no Jardim Saira. Padaria “Panini” no Jardim São Paulo. Padaria “Del Rey”, Padaria “Central Parque”. “Panicenter”, padaria “Monte Rei”, padaria “Padrão”. Padaria “Arco Iris”, do Paulo Bacelli e, dezenas de outras, fazem parte da nossa história sem fim das padarias de Sorocaba.
Vanderlei Testa é jornalista e publicitário, escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. E-mail: [email protected]