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O nosso primeiro Fusca

24 de Março de 2020 às 00:01

O nosso primeiro Fusca Crédito da foto: Fotomontagem VT

Vanderlei Testa

O primeiro Fusca ninguém esquece. A história dos Fuscas vem de longe: 1950. Há muitas citações da trajetória desses carros da Volks. Eram desmontados em peças vindas da Alemanha para serem transformados em montadora no Brasil. Consta que em 3 de janeiro de 1953 a produção do Volks Fusca com peças originais brasileiras foram usadas na primeira montadora em barracão da empresa no bairro do Ipiranga, em São Paulo, Capital.

Ali surgia o primeiro e original Fusca montado e fabricado do Brasil. Da garagem da minha casa em Sorocaba vejo o primeiro Fusca do amiguinho Nicolas guardado como relíquia na sua casa. Ele ganhou dos pais e do avô quando tinha 7 anos de idade. Depois conto mais detalhes no final do artigo.

No início de 1970 entrei em um consórcio do Automóvel Clube do Brasil. O escritório ficava no final da rua da Penha. Estava na faculdade e a tia Helena me ajudava a pagar as prestações. Sabia que não poderia ficar com o carro sorteado, pois precisava do dinheiro para os preparativos do noivado e casamento em 1973.

Com muita sorte nos sorteios mensais, acabei no final de 1972 recebendo a notícia de que o carro Fusca, zero-quilômetro, na cor verde folha, estaria à minha disposição na concessionária. Feliz por ter sido contemplado, eu fui atrás da papelada e comecei a divulgar a venda do Fusca.

Apareceu uma pessoa de nome Vanderlei, interessado e que efetivou a compra. No dia marcado pela concessionária, com alegria estampada no rosto pelo resultado da venda, mas com um sentimento de “perda” de um desejo antigo em ter meu Fusca zero, fui entregar as chaves do carro.

Lembro-me até hoje, passados 47 anos do fato, a imagem do Fusca saindo da agência e o meu xará Vanderlei na direção buzinando e indo embora. Agora vem a curiosidade inesquecível das consequências do meu primeiro Fusca.

Com o dinheiro recebido de R$ 13 mil da venda do Fusca, aluguei uma casa na rua Teresa Lopes, reformei, pintei e mobiliei para casar. Em seguida à cerimônia do casamento fui viajar. Uma semana depois já estava de volta a Sorocaba. O pior aconteceu. O dono da casa que aluguei e reformei, vendeu o imóvel aproveitando a minha ausência.

Como não havia contrato de locação na época, o máximo que consegui foi ficar três meses morando lá até a mudança para outro imóvel. Perdi o Fusca e a casa reformada e decorada com o dinheiro recebido. Levei “um cano”, como diziam meus amigos da Metalúrgica Aparecida.

Voltando ao desejo do Fusca, em 1976 consegui comprar um usado ou seminovo, como dizem agora. Era branco e a chapa ZB 2422 ficou anos rodando comigo naquele sonhado carro. Viajamos em família por Minas Gerais em algumas cidades do Circuito das Águas. Minha primeira habilitação foi tirada em 27 de abril de 1973.

Sem muito conhecimento de rodar nas estradas e cidades, aí vem também a lembrança de uma primeira batida no para-lama do lado esquerdo. Estava estacionando e um distraído motorista afundou a lataria pressionando o pneu. Lá mesmo em Águas da Prata um funileiro ajeitou a batida para seguirmos viagem. O segundo Fusca foi um de cor azul.

Já estávamos nos anos de 1980 e trabalhava na Siderúrgica NS Aparecida. Havia um amigo que também tinha um Fusca azul na empresa. A semelhança na cor causou um fato ainda lembrado pelo Valdemir Egêa Ervilla. Um dia fui abrir as portas do meu carro estacionado na empresa e imaginava que era o meu Fusca azul.

Foi quando apareceu o verdadeiro dono Ervilla dando risadas. Era o Fusca dele e as minhas chaves abriram o seu carro. Detalhe: o meu Fusca estava estacionado distante uns 100 metros daquele veículo.

Recentemente mostrei para amigos uma foto do meu primeiro Fusca branco e os comentários vieram com muitos detalhes desse tradicional modelo da Volkswagen que encantou o mundo. No Brasil pararam de fabricar. Voltou à linha de produção em outro design e continua ainda a atrair o coração dos apaixonados por carros.

José Maria Florenzano disse que teve um Fusca 67 e outro ano 68. Ambos na cor bege. Segundo Florenzano o 67 era horrível, sistema elétrico de seis volts, uma temeridade para viagens noturnas. O Basílio Petri citou que o primeiro Fusca dele foi do ano 1961. O Antonio Proença comentou que o seu Fusca 1979 foi o primeiro na sua história de motorista. Já o amigo Michael Winetzki, de Brasília cidade, não de carro Brasília, disse que a sua esposa ainda usa um Fusca 72 muito bem conservado.

E depois do Fusca, tive a minha Brasília branca e uma perua Variant amarela. A Volks sempre me acompanhou em mais de 20 anos de estradas. Um dia mudei de marca e nunca mais voltei.

E finalizando, volto ao menino Nicolas. Meu vizinho Paulo Alvares, morador em Sorocaba e criado em São José do Rio Preto, contou-me que seu pai, profissional em mecânica da Volks em perua Kombi e Fusca, tinha verdadeira paixão por esses carros.

Tanto é verdade, que ele foi buscar na casa do pai em Rio Preto uma relíquia de Fusca ano 83 para dar ao seu filho Nicolas. Vai conservar e guardar até quando ele for maior de idade e habilitado para dirigir. Fazendo um cálculo, imagino que aos 18 anos, o Nicolas terá o seu Fusca com a diferença de fabricação em 48 anos (1983-2031).

Mostro na foto em preto e branco o meu 1º Fusca com a chapa original e o Fusca na garagem do amiguinho sortudo em ganhar essa relíquia. Ah, a minha neta Carolina adora Fusca e tem a mesma idade do Nicolas. Como avô já estou entendendo a mensagem de “também quero um”.

Vanderlei Testa jornalista e publicitário escreve quinzenalmente no Jornal Cruzeiro do Sul às terças-feiras e aos sábados no www.facebook.com/artigosdovanderleitesta e www.blogvanderleitesta.com

Todos os artigos publicados no eBook, livro disponível no Google Play com o título 127 Artigos + Histórias Emocionantes.