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O mal dos mal-humorados

01 de Março de 2019 às 00:01

José Feliciano

Acredite ou não, existe um dia para celebrar o péssimo humor no mundo todo, dia 13 de novembro. Com certeza não é uma data muito comemorada, já que teríamos que convidar os mal-humorados para a festa e eles ficariam de mau humor e se aceitassem comparecer teriam manifestações típicas do mau humor:

-- Que lugar é esse?

-- Esse som está muito alto.

-- Eu não consigo ouvir o que as pessoas dizem.

-- Discurso longo.

-- Tem um cara que não para de cutucar a minha cadeira.

-- Você viu que o camarão está com cara esquisita?

-- Quem convidou aquele sujeito para a festa?

-- A piscina está com a água turva, vou pegar micose.

-- Se alguém escorregar aqui arrebenta cabeça.

-- Essa carne do churrasco tá dura.

-- Só tocam esse tipo de música aqui?

-- A luz tá bem na minha cara.

O mau humor crônico está inserido num tipo de depressão chamado distimia. Ou seja, em alguns casos é tão difícil aceitar o mau humor de uma pessoa que é melhor classificá-la como doente, dar-lhes pílulas, eletrochoque ou doar seus órgãos com ela ainda viva.

Os mal-humorados, no entanto, permeiam a história humana seja através de personagens, seja através de intelectuais, personalidades do mundo artístico e cidadãos comuns.

Na filosofia, François-Marie Arouet ou Voltaire (Séc. 17/18), foi famoso por seu mau humor e ironia, e escreveu: “O homem morre como nasce: sem cabelo, sem dentes e sem ilusões.”

Arthur Schopenhauer (filósofo alemão do século 20), disse: “Casar significa reduzir pela metade os direitos e dobrar os deveres”.

No Brasil, o falecido jornalista Paulo Francis era famoso por seu humor e ironia, escreveu: “A ignorância é a maior multinacional do mundo”. Nelson Rodrigues, jornalista e dramaturgo deixou sua contribuição: “Invejo a burrice, porque é eterna”.

Entre as personalidades atuais, Karl Lagerfeld, recém-falecido estilista da casa Chanel era famoso por seu mau humor, idem o cantor Justin Bieber e a bela modelo Kate Moss.

No Brasil, artistas como Paula Fernandes, Luana Piovanni, Mateus Solano e até a superstar Anitta, estão na lista dos mal-humorados e antipáticos. E qualquer um de nos é capaz de conhecer ou se lembrar de alguém mal-humorado em nossas vidas. Alguns folclóricos. Lembro de um tio que dizia que adorava ir a velórios porque eram mais animados que muitas festas.

-- Elza, esse bife está muito salgado.

-- Eu não coloquei sal no bife, Valdemar.

-- Eu sabia! Está faltando, alguém me passa o sal?

O mal-humorado corrige os erros de concordância dos repórteres na televisão e até mesmo dos entrevistados, sejam estes cultos ou não. Eles não suportam erros de conjugação verbal ou pronominal e dão cabeçadas na tela da TV quando um jogador afirma: “Eu se esforcei muito para chegar ao gol”. Ou quando o personagem do Tony Ramos, diz: “Eu vou levá ela no médico”.

Mal-humorados têm convulsões com a dicção de celebrados correspondentes nacionais como Andreia Sadi ou internacionais como Cecilia Malan, que falam fluentemente o inglês, mas dizem:

“O ministro acabou dizeno que ...”

“O que está aconteceno na fronteira da França...”

O mal-humorado quer ir embora do cinema quando vê garotos na fileira de trás ou com o barulho de sacos de pipoca rodando entre casais. Se irrita se a música está muito alta que não deixa ouvir o que falam ou tão baixa que não se ouve nada. Fica indignado com o trânsito mesmo estacionado na garagem. Para o mal-humorado tudo está sempre cheio; e mais de dois é multidão, o barulho é insuportável, as pessoas chatas, a comida ruim e o preço, caro.

Para o mal-humorado ou o sol está muito forte ou a chuva não vai parar nunca mais, acham que chegam cedo a qualquer lugar e saem muito tarde. O salgadinho está gelado e a cerveja, quente em qualquer festa. O sujeito de mau humor não fica bem com nenhuma roupa, nenhuma gravata combina ou camisa fecha no colarinho. No restaurante, os garçons nunca os atendem e, se atendem, erram no pedido.

-- Garçom! Por favor, dá para tirar a gaiola antes de servir esse frango a passarinho? E diga ao cozinheiro para lembrar de matar o frango antes de servir!

Até o tempo é diferente. Dez minutos de espera para os normais parecem durar trinta para os mal-humorados. Para o mal-humorado toda segunda-feira já começa no domingo.

A moça do banco nunca resolve seus problemas, o mecânico não sabe o que seu carro tem, ninguém entende o que eles dizem. O mal-humorado não aceita inimigos comuns se tiverem que ser perseguidos é por ninguém menos que Deus. Deus está sempre contra os maus humorados, eles têm certeza.

O mau humor é uma doença que quando uma pessoa tem, o outro é que fica doente. Há mal-humorados que se salvaram de uma doença incurável e continuaram com mau humor.

Quando você encontra um mal-humorado pela manhã é fácil reconhecer. Basta lhe desejar:

-- Bom dia! E ele responderá:

-- Prove!

Filme recomendando para os aposentados: Esqueceram de mim 65 anos depois!

José Feliciano é redator de humor e mistérios -- Médico de humor