Buscar no Cruzeiro

Buscar

‘O ladrão de crianças’ no Cine Reflexão

29 de Março de 2019 às 00:01

‘O ladrão de crianças’ no Cine Reflexão Antonio e Luciano, de “O ladrão de crianças”: filme de amor e de crítica social. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

O filme, de 1992, começa nos arredores da cidade industrializada de Milão. Em um prédio de apartamentos que mais se assemelha a um cortiço mora uma família de imigrantes da Sicília: a mãe, um filho de nove anos, Luciano, e uma filha de onze, Rosetta. A mãe faz com que Rosetta se prostitua, o que garante a renda familiar. A polícia invade o apartamento da família, prende a mãe e um cliente da filha.

A duas crianças deveriam ser postas sob a custódia de uma instituição social em Milão, mas são encaminhadas para um orfanato religioso. O carabineiro Antonio, jovem e solteiro, é encarregado de transportá-las. No orfanato elas não são aceitas. Desesperado, Antonio continua a busca por acolhimento para as duas crianças. Decide seguir com elas para uma instituição na Sicília, onde nasceram.

Como acontece nos “road movies” (filmes de viagem), os três personagens que se deslocam do norte para o sul da Itália vão gradualmente descobrindo uns aos outros e a si próprios. Luciano, de um menino asmático que não ri e que mal fala, com atritos permanentes com a irmã e desconfiado de Antonio, vai pouco a pouco encontrando sua infância e vendo no carabineiro o pai amoroso que não teve.

Rosetta é a personagem mais complexa dos três. Ela é profundamente marcada por suas experiências de vida; tem a malícia anacrônica de uma adulta, mente para esconder sua pobreza e condição familiar. Briga violentamente com o irmão, inveja uma menina que está recebendo a primeira comunhão. É agressiva e autoritária com Antonio, diz que dará queixa dele porque a tocou -- acusação falsa, obviamente. Gradualmente, vai se aproximando do carabineiro e volta a brincar e se comportar como criança que de fato é. Substitui a calça jeans colada ao corpo por um vestido infantil. Mas, ao mesmo tempo, se torna reflexiva como um adulto que repassa e repensa sua vida.

Antonio é um homem gentil, simples, estudioso, que se esforça para progredir na carreira militar. Cuida das duas crianças como faria um pai carinhoso e compreensivo. Sua pedagogia como pai momentâneo não resulta do conhecimento adquirido em escolas ou nos livros de psicologia ou pedagogia, mas vem do coração, é intuitiva, porque é resultado da educação que teve em uma família bem estruturada. Os percalços que ocorrem na viagem e que o forçam a adiar a entrada das crianças em uma instituição parecem deixá-lo feliz porque parece preferir dar-lhes alegria e amor a entregá-las aos cuidados de uma instituição cujo acolhimento é de qualidade incerta.

“O Ladrão de crianças” é um filme humano, em que o amor vai sendo construído entre as três figuras principais. A história flui naturalmente, espontaneamente, sem clichês choramingadores. Mas é sobretudo um filme social. Antonio se tornou carabineiro como saída para a situação de desemprego. As instituições para recuperação de menores são criticadas de forma sutil, mas impiedosa, incluindo a religiosa. A viagem de Milão â Sicília exibe o submundo da sociedade no início da década de 1990.

Serviço

Cine Reflexão

“O ladrão de crianças”, de Gianni Amelio

Hoje, às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita