Tulio Pereira Cardoso

O que desloca? É a rótula que sai de lugar? Um fragmento de menisco que desloca dentro do joelho? Ou o joelho sai como um todo quando rompe um ligamento?

Essas são as primeiras perguntas a serem respondidas.

A articulação do joelho é composta pelo fêmur que é o osso da coxa, e pela tíbia, osso da perna, e a patela ou rótula, aquele osso arredondado que fica na frente do joelho. Todos esses ossos estão recobertos por cartilagem e ligados por estruturas conhecidas como ligamentos que mantêm o equilíbrio ou estabilidade dessas articulações.

Além disso, entre o fêmur e a tíbia estão os meniscos que entre outras funções dão forma, guiam o movimento de rotação e flexo-extensão do joelho e distribuem carga.

O rompimento dos ligamentos e/ou dos meniscos leva ao falseio ou instabilidade dando a sensação de que o joelho desloca, ou sai de lugar. No caso da articulação entre o fêmur e a patela, ocorre o deslocamento ou luxação da patela. Ela literalmente “sai de lado”.

Nas crianças e adolescentes, principalmente meninas, a luxação ou deslocamento da patela é a ocorrência mais frequente. O paciente relata que sua rótula “saiu para o lado de fora e voltou”. Ocasionalmente sai e não volta. A dor geralmente é muito intensa e pode ocorrer inchaço no local. A sensação de medo e insegurança para andar e principalmente para agachar é muito comum nesses casos. Inúmeras causas como alterações anatômicas dos ossos, disfunções musculares ou mesmo traumas durante brincadeiras ou praticando esportes podem ser a origem do problema. Inicialmente indica-se imobilização, repouso, gelo e analgésicos.

Em alguns casos pode-se tratar com fisioterapia e uso de joelheiras, mas nos casos mais graves e nas luxações ditas habituais ou recidivantes, aquelas em que o deslocamento acontece com frequência, é necessário o tratamento cirúrgico com as correções pertinentes, ósseas e/ou ligamentares. Isso também pode ocorrer em adultos. A fisioterapia tem indicação tanto no tratamento conservador (sem cirurgia) como após tratamento cirúrgico.

Outra causa de sensação de deslocamento do joelho, mais comum em homens, principalmente originadas por trauma esportivo, é a rotura do ligamento cruzado anterior. Geralmente está associado a lesão de um dos meniscos e o tratamento cirúrgico com reconstrução desse ligamento é a regra.

Algumas lesões dos meniscos podem causar não só sensação de deslocamento como também de bloqueio. Parece que o joelho “está amarrado ou travado”. Isso decorre da interposição de fragmentos do meniscos dentro do joelho. Nesses casos a reparação cirúrgica da lesão se faz necessária.

Pseudofalseios ou “falseios falsos” também podem decorrer da presença de uma estrutura anatômica, conhecida como plica ou prega sinovial, que nada mais é que uma dobra da membrana sinovial que reveste internamente a articulação do joelho. Quando ela inflama em decorrência de excesso de atividade física, muito agachamento e até ganho de peso corporal, pode dar essa falsa sensação de deslocamento do joelho pela interposição dessa membrana entre a patela e o fêmur. Fisioterapia com analgesia e alongamentos resolvem a maior parte dos casos. Eventualmente é necessária a ressecção cirúrgica dessa plica sinovial.

Pacientes portadores de artrose, devido ao desgaste articular, têm a sensação de falseio não só pela frouxidão muscular e ligamentar associadas, como pela incongruência dos ossos pela deformidade. São aqueles que escolhem lugar para pisar, evitando escadas, degraus, calçadas e ruas esburacadas, que infelizmente são muitas.

Portanto, “o joelho que desloca” pode ter várias causas. É mandatório um bom exame clínico e de imagem para definir um diagnóstico preciso e indicar o tratamento adequado.

Dr. Tulio Pereira Cardoso é Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho e Preceptor de Ortopedia do Hospital Santa Lucinda da PUC-SP.