O joelho do adolescente
Tulio Pereira Cardoso
Biologicamente a adolescência abrange uma fase de modificações anatômicas, fisiológicas e psicológicas que transformam a criança em adulto. É a chamada puberdade. O “estirão do crescimento” ocorre nas meninas entre os 9 e os 14 anos de idade, enquanto nos meninos vai dos 10 aos 16 anos.
As patologias do joelho do adolescente, ocorrem por traumas comuns como quedas e acidentes na prática de esportes, e frequentemente ao “andar de bicicleta”, ou por alterações do esqueleto ligadas ao crescimento rápido. Além dessas doenças podem ocorrer infecções e tumores como em qualquer fase da vida.
É muito frequente ouvirmos queixa de dor anterior do joelho em crianças e adolescentes. Ocasionalmente são causadas por esse crescimento acelerado do esqueleto, com consequente tração de músculos, tendões e do próprio periósteo que envolve os ossos e é bastante espesso e vascularizado nessa fase da vida. Realmente existe a “dor do crescimento”, principalmente em indivíduos fisicamente muito ativos. Analgésicos comuns e diminuição da atividade física por algumas semanas geralmente resolvem o problema. No entanto, alguns adolescentes apresentam doenças inflamatórias características dessa fase da vida.
A mais frequente, principalmente em meninas é a condromalacia patela. Segundo o The International Patellofemoral Study Group, 1997, a condromalacia não é um diagnóstico para pacientes com dor anterior do joelho e deve ser usado para descrever um específico amolecimento da cartilagem articular e, não, como um diagnóstico clínico vago. Parece que é mais frequente em meninas por influência do aumento da produção do hormônio estrogênio que coincide com a primeira menstruação, e o aparecimento dos caracteres sexuais secundários.
Portanto a condromalacia, na minha opinião, é uma “quase não doença”, seria apenas uma fase de amolecimento da cartilagem da patela do joelho no adolescente. A partir daí alterações nessa cartilagem deveriam ser chamadas de condropatia ou doença articular.(*)
O tratamento da condromalacia, se necessário, deve compreender alongamentos, perda de peso corporal, fortalecimento muscular e uso de antinflamatórios e analgésicos por poucos dias. A fisioterapia e a mudança de hábitos, como correr menos e jogar menos, por algumas semanas é recomendável. O uso de joelheiras é questionável.
Meninos principalmente, por volta dos 11 ou 12 anos apresentam uma protuberância na frente do joelho, um pouco abaixo da rótula, conhecida com Apofisite de Osgood-Schlätter. Mais comum naqueles que praticam vôlei ou que são goleiros no futebol. É uma “doença transitória” que desaparece no final do crescimento e é aliviada pelo uso de gelo local, anti-inflamatórios e diminuição da atividade esportiva.
Mais frequente nas meninas adolescentes, principalmente no período próximo à menstruação, ocorre uma inflamação na gordura que fica atrás do tendão patelar, na frente do joelho. Incha e dói. É conhecida como Hoffite ou Doença de Hoffa. Gelo, repouso e analgésicos e anti-inflamatórios diminuem a dor e melhoram a função.
Já a osteocondrite dissecante, mal comparando, seria uma cárie no osso do fêmur que pode ocorrer na sua forma juvenil numa proporção de 5 meninos para cada 2 meninas. É mais comum naqueles que praticam esportes de forma extenuante e felizmente a grande maioria resolve de forma espontânea. As tendinites, que são inflamações nos tendões ao redor do joelho geralmente estão ligadas ao excesso na atividade física.
Outras alterações como instabilidades da rótula ou patela serão abordadas numa próxima publicação. Como pode ser observado, a maioria dos problemas do joelho do adolescente, apesar do incômodo causado aos mesmos e da ansiedade gerada nos pais, geralmente resolvem com o final do crescimento. Outros problemas, como os emocionais, também parecem restritos a essa fase da vida. Portanto, filosoficamente falando, é preciso crescer.
(*) Chondromalacia a diagnosis or a diagnostic nihilism?
Dariusz Witonski
Ortopedia Traumatologia Rehabilitacja, 2016 5(6): V18,508-10
Dr. Tulio Pereira Cardoso é Especialista pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho