O efeito devastador da pressão alta
Mário Cândido de Oliveira Gomes
Existem pessoas que nunca tiveram a curiosidade de medir a pressão arterial. Outras são viciadas, conferindo seus níveis todos os dias.
Como em tudo na vida, deve prevalecer o bom senso. Talvez uma vez por mês ou durante o check-up anual estaria de bom tamanho.
Fala-se em pressão a medida da força do sangue contra a parede dos vasos, geralmente observada acima da dobra do cotovelo. Para a pressão contribui uma série de fatores, como a força de contração do coração, a velocidade do sangue, a consistência das paredes das artérias, etc.
Por isso, cada indivíduo tem um nível de pressão, que é absolutamente normal para aquela pessoa. Todavia, o que se considera normal é a média da pressão na maioria da população. Assim, ficou convencionado que o ideal para um adulto seria até 120/80, sendo 120 a chamada pressão sistólica (máxima), que corresponde à expulsão do sangue pela contração do coração (sístole) e 80 a diastólica (mínima) ou o relaxamento das câmaras do coração para enchimento de sangue (diástole).
A pressão sofre influência da idade, sexo, temperatura ambiente, exercício físico, altitude, emoções, horário, etc. Até bem pouco tempo o limite máximo da pressão considerada normal era de 130/85.
Agora, os estudiosos do problema resolveram “apertar o cinto”, exigindo o nível abaixo de 120/80. Mas qualquer medida acima de 140/90 caracteriza uma pressão alta ou hipertensão arterial.
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Conforme o nível, a pressão alta pode ser subdividida em estágios: I (leve), 11 (moderada) ou 111(grave). Também pode ter o aumento exclusivo da sistólica ou diastólica.
A hipertensão arterial é classificada em essencial e secundária, conforme a origem ser desconhecida ou conhecida. A essencial é responsável por 90% dos casos de pressão alta, sendo relacionada a diversos fatores.
Assim, nos países industrializados, a média da pressão arterial da população aumenta com a idade, principalmente a pressão máxima ou sistólica. Também, 50% dos pacientes hipertensos apresentam história familiar de aumento da pressão ou de óbitos prematuros de origem cardíaca.
Nos países ocidentais a hipertensão é mais frequente nos indivíduos de raça negra. Embora em muitos indivíduos exista uma influência nítida das emoções no aumento da pressão (ansiosos, irritados, angustiados, etc), o papel representado pelo estresse ambiental permanece controvertido. Mas, os comedores exagerados de sal, isto é, aqueles que não dispensam o saleiro na mesa ou sempre acham que a comida está sem sal, terão um aumento da pressão com a idade.
A hipertensão secundária é geralmente grave, sendo causada por doenças congênitas (coartação da aorta, doença renal policística, etc), endócrinas (feocromocitoma, hipertireoidismo, etc), renais (nefrite, diabetes, etc), vasculites (Iúpus, poliarterite nodosa, etc) e até por medicamentos (pílulas, cortisona, etc).
A pressão alta pode ser silenciosa, sendo difícil descobrir pela falta de sintomas, ou então sintomática, como dor de cabeça ou peso na nuca, tonturas, perturbações visuais, auditivas, etc. Com o tempo, se não controlada a pressão alta tem um efeito devastador sobre numerosos órgãos, como o cérebro (derrames, isquemias, etc), olhos (cegueira), coração (angina, infarto, etc), vasos periféricos (isquemia, etc) e rim (insuficiência de filtração, etc).
O resultado final é o grande número de sequelas e, principalmente, a morte precoce. Sempre é bom lembrar que a pressão arterial sofre influência de numerosos fatores de risco, como o tabagismo, colesterol, álcool, diabetes, vida sedentária, obesidade, menopausa, estresse, sal, etc.
As pessoas que fazem uso de remédios para controlar a pressão devem se submeter aos exames clínico e laboratorial duas vezes/ano, tendo em vista a possibilidade da medicação não estar funcionando ou não estar cobrindo as 24 h/dia. Assim, existem pessoas cuja pressão é maior durante a noite, precisando de medicação específica para esse período.
Nunca é demais insistir que prevenir é melhor do que remediar. A pressão alta é sempre traiçoeira e imprevisível. Por isso, cuidado com ela.
Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.