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O cigarro envelhece a pele

19 de Dezembro de 2018 às 00:01

O cigarro foi comparado ao sol em relação ao envelhecimento da pele, mas a combinação dos dois fatores é denominada “explosiva” pela gravidade. Com efeito, a exposição solar acarreta elastose (degeneração das fibras) e o fumo junto com o sol agrava a elastose e provoca o envelhecimento precoce do tegumento. O cigarro age no mesmo local que o sol, causando o tom amarelado, aumento da espessura e as rugas. Isto acontece pelo efeito vasoconstritor do tabaco, que provoca diminuição de oxigênio no sangue e impede que os nutrientes cheguem à superfície da pele.

Tal ação também é responsável pela dificuldade de cicatrização dos machucados e de cirurgias, além do aparecimento de necroses. Uma tragada de cigarro é responsável por 90 minutos de fechamento dos vasos, causando má circulação. Por isso, nos Estados Unidos os médicos não fazem cirurgia plástica em fumantes, pois a pele descolada pela cirurgia não cicatriza, causando necroses ou destruição dos tecidos.

Para deter ou amenizar o problema somente largando o cigarro, mas se o tabagista persiste no vício, outras medidas devem ser adotadas. O hábito de fumar começou por volta do ano 1000 a.c. com os índios, que utilizavam a planta Nicotina tabacum em cerimônias e rituais. Após o descobrimento (século 16) foi difundido pelo mundo pelos portugueses e espanhóis. No mesmo século, o embaixador francês em Lisboa, Jean Nicot. levou o tabaco para a França, sendo aprovado pela rainha Catarina de Medicis, espalhando o fumo pelo velho continente. A industrialização do cigarro começou no fim do século 19, relacionando os fumantes com a imagem de sucesso, em meados do século passado. Na segunda metade do século 20, os pesquisadores descobriram os malefícios do tabaco, e há menos de uma década o cigarro foi associado ao envelhecimento precoce da pele e problemas de cicatrização.

Assim, foi documentado que o hábito de fumar afeta a síntese de colágeno e a renovação das células. Também pode destruir as fibras que sustentam a pele do rosto, provocando flacidez e sulcos em volta dos olhos (pés de galinha) e na região da boca, pelo movimento constante e repetitivo de sucção da fumaça. Ainda, a fumaça ativa os genes responsáveis pela fabricação de uma enzima que faz quebrar as moléculas de colágeno.

Portanto, o hábito de fumar resulta numa pele mais fina e seca, que é facilmente agredida pelo meio ambiente. Também rouba as vitaminas A e C do organismo, ajudando na formação dos radicais livres (toxinas) e colaborando para o envelhecimento. Para piorar o problema. a nicotina diminui duas substâncias importantes para o organismo: a prostaciclina e a prostaglandina, que interferem diretamente no processo de formação do colágeno e da elastina da derme. A falta destas substâncias acarreta diminuição do brilho, surgindo cor amarelada e, em alguns fumantes, tom acinzentado.

Para combater os efeitos nocivos do cigarro sobre a pele é necessário tratamento local com cremes a base de ácido retinóico, que combate a má circulação através de uma rede de circulação lateral. Outro grande aliado é o bloqueio da ação oxidante dos radicais livres por meio do dimetilaminoetanol (DMAE), que atua nas fibras musculares e diminui a aparência enrugada e flácida da pele.

Nos grandes fumantes são utilizados tratamentos mais agressivos, como os peelings, associados ao uso de cremes antienvelhecimento. Também é fundamental a reeducação alimentar, incluindo alimentos antioxidantes e a reposição das vitaminas C. E, selênio e os precursores da vitamina A, que são indispensáveis para o crescimento, renovação e manutenção da pele. Desta forma, o fumante tem à sua disposição vários recursos prontos para combater os elementos agressivos do cigarro.

Mas um creme receitado especialmente para aquele tipo de pele garante um efeito melhor. Finalmente, o cuidado diário (limpeza, hidratação, etc) e hábitos sadios mantêm a pele jovem, transparente e luminosa, refletindo a saúde total do indivíduo. Sem esquecer que o rosto é a vitrine do envelhecimento.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.