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O cérebro também precisa de ginástica

12 de Junho de 2019 às 00:01

Mário Cândido de Oliveira Gomes

O cérebro precisa de intensa atividade intelectual para se manter jovem. As perdas cerebrais causadas pelo envelhecimento não são tão severas e podem ser atenuadas com exercícios para o cérebro, como palavras cruzadas, leitura, quebra-cabeças, etc. Apesar do avanço da ciência, o cérebro continua uma caixa de segredos, mas as descobertas têm sido gratificantes. O órgão pesa 1,2 quilos mantendo em atividade a bagatela de 100 trilhões de conexões. Graças à delicada trama de células (neurônios) e ligações (dentritos), o indivíduo pensa, raciocina e recorda das experiências de vida. Dos 30 anos em diante o cérebro perde 10 mil células por dia, 300 mil por mês e 3,6 milhões por ano.

O estudo do cérebro em funcionamento tem mostrado que existe perda de células com o passar dos anos, porém os danos não são tão agressivos como se pensava. Assim, por exemplo, não explica os lapsos de memória, a queda da visão e audição, a lentidão na tomada de decisões ou o comprometimento das funções motoras, como os movimentos e tipo de marcha. Os neurocientistas acreditam que o envelhecimento do cérebro decorre da diminuição da velocidade e da eficiência das ligações entre os neurônios, o que significa perdas funcionais maiores que a destruição da massa encefálica. Realmente, com o avançar da idade alguns dentritos morrem, outros encurtam. Todavia, se o cérebro é mantido com atividade constante os danos são menores. Também, a prática regular de exercícios físicos é uma espécie de elixir de longa vida. Portanto, nada de moleza.

Outra descoberta importante mostrou que os neurônios podem se multiplicar, isto é, o cérebro fabrica células até na velhice. Ainda, em qualquer época da vida é possível aumentar as conexões desse circuito elétrico, mas após a maturidade exige maior esforço. Dessa forma, o cérebro estimulado com leitura, resolução de problemas, memorização de textos, etc. pode evitar ou atenuar os problemas típicos do envelhecimento, como perda de memória, confusão mental e lentidão de raciocínio.

Os cientistas também observaram que o temível Mal de Alzheimer é cinco vezes menos frequente nas pessoas que cultivam alguma atividade intelectual. Existe no mercado um cardápio de livros que procuram ensinar exercícios mentais para manter a memória afiada, raciocínio dinâmico, alegria de viver, etc. Enfim, tudo para qualquer idade. A ginástica aeróbica é importante porque mantém o cérebro bem oxigenado, com diminuição das perdas celulares.

Por outro lado, o nosso órgão pensante sofre a agressão de diversos venenos, como o estresse, que atua através da produção do hormônio cortisol, um verdadeiro exterminador de neurônios. Os indivíduos nervosos, também conhecidos como neuróticos, neurastênicos, estopim curto, etc. precisam se controlar para não perderem suas células nervosas. Assim, com o envelhecimento as pessoas devem ficar cada vez mais dependentes dos exercícios físicos e mentais, deixando de lado o sedentarismo, a preguiça, a falta de motivação, o isolamento, etc.

Com efeito, cada hora dedicada à atividade rende duas horas a mais de vida. O sedentarismo está relacionado a 37% das mortes por câncer, 54% por doenças cardiovasculares e 50% dos derrames. Também o bom humor e as emoções positivas fortalecem o organismo e ajudam chegar à velhice com o vigor da mocidade. As pessoas com visão otimista da senectude tendem viver sete anos e meio a mais do que os pessimistas. O impacto do otimismo sobre a longevidade equivale aos benefícios de não fumar e manter o colesterol e a pressão arterial em níveis saudáveis. Portanto, nada de aposentadoria tranquila. O negócio é se mexer.

Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.