Buscar no Cruzeiro

Buscar

O centenário do eclipse de Sobral

05 de Junho de 2019 às 00:01

Paulo Sergio Bretones

No dia 29 de maio comemoramos os 100 anos do eclipse total do Sol observado em Sobral, no Ceará, que comprovou a teoria da relatividade de Einstein.

Desde 1704 Isaac Newton sugeriu que a luz seria composta de partículas e por isto poderia sofrer atração gravitacional. Henry Cavendish em 1784 propôs que a luz de uma estrela poderia sofrer um desvio ao passar nas proximidades do Sol. Depois, Johann George von Soldner, em 1804 calculou que o valor desse ângulo de deflexão seria de 0,87’’ de arco. Mas na época não seria possível tal medida, pois o ângulo previsto era muito pequeno e as fotografias dos astros só começaram a serem feitas por volta de 1840.

Em 1911, estudando a gravitação na propagação da luz, Albert Einstein previu que a luz sofre um desvio ao passar pelas proximidades de um astro de grande massa como o Sol. Em 1915, publicou a Teoria da Relatividade Geral na qual a gravidade é um efeito da alteração da geometria do espaço-tempo devido à matéria. Por causa disto, a luz das estrelas, ao passar nas proximidades do Sol, sofreria uma deflexão, uma curvatura, ou seja, seriam vistas em posições diferentes das observadas numa noite qualquer. Sendo assim Einstein previu que um eclipse total do Sol poderia confirmar sua teoria.

Antes disso, em 1911, o astrônomo alemão, E. Freundlich analisou as fotografias de eclipses, mas não encontrou evidências para isto. Várias tentativas foram feitas pelas observações de eclipses como em 1912, que seria observado em Passa Quatro (MG), mas que choveu na ocasião. Outro na Criméia em 1914, mas o início da Primeira Guerra Mundial também impediu o registro do fenômeno. Em 1916 foi observado um eclipse na Venezuela, mas as fotografias não permitiram comprovar a teoria. Também em 1918 ocorreu um eclipse observado nos Estados Unidos, mas a nebulosidade na ocasião dificultou os registros.

No eclipse de 1919, a faixa da totalidade, na qual foi observado teve início no Peru, passando pelo Brasil, atravessando o Atlântico, passando pela Ilha do Príncipe a 300 km da costa da África, cruzando a África e passando por Moçambique.

Na ocasião, os ingleses organizaram duas expedições para observar o eclipse. Uma delas dirigida por Arthur Eddington, para a ilha do Príncipe e outra coordenada por Charles Davidson e Andrew Crommelin para Sobral.

Sobral foi escolhida por Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional por estar próxima à linha da centralidade, com maior tempo de observação do fenômeno, facilidade para a chegada dos astrônomos estrangeiros, transporte de instrumentos e logística. Também participaram da equipe brasileira os astrônomos Domingos Costa, Lélio Gama e Allyrio de Mattos e os americanos Daniel Wise e Andrew Thomson.

No dia 29 de maio, o dia amanheceu nublado, mas o tempo abriu na hora do fenômeno, iniciando às 8h56 e com a duração de cerca de 5 minutos. Das fotografias, oito foram obtidas com um telescópio com uma lente de 4 polegadas ou 10,1 cm, com sete estrelas aparecendo nelas e foram consideradas muito boas. Na Ilha do Príncipe, houve tempo chuvoso, apenas duas fotografias foram obtidas e com resultados incertos.

Em julho do mesmo ano foram obtidas fotografias do mesmo grupo de estrelas, na constelação do Touro, por onde o Sol havia passado durante o eclipse. Após comparar as fotografias obtidas com os mesmos instrumentos, as medidas mostraram um valor de 1,98’’ para o ângulo de deflexão da luz, muito próximo ao previsto por Einstein, de 1,75’’. Os resultados foram divulgados em 6 de novembro de 1919 por Dyson, Eddington e Davidson numa reunião da Royal Astronomical Society em Londres. Nos dias seguintes, manchetes de jornais do mundo todo noticiaram que a teoria de Einstein suplantou a teoria de Newton. Isto fez com que Einstein se tornasse muito conhecido.

Em 1922 foi observado outro eclipse na Ilha Christmas cujas fotografias confirmaram a teoria. Quando Einstein esteve no Brasil em 1925 disse: “O problema concebido pelo meu cérebro, incumbiu-se de resolvê-lo o luminoso céu do Brasil”.

Tal evento foi de grande importância para a ciência e para nós brasileiros por ser observado em nosso país, pela colaboração internacional entre as equipes de astrônomos brasileiros, ingleses e americanos e a repercussão dos resultados.

Como sugestão, particularmente sobre Einstein, sugiro que professores indiquem a seus alunos e também aos interessados de modo geral que assistam à série “Genius: A vida de Einstein”, produzida pela National Geographic e apresentada na TV Cultura aos domingos às 21h. A série aborda a história de Einstein, sua vida pessoal, carreira, e contribuição para a ciência. Conhecer a história da ciência é sempre uma inspiração para jovens, professores e público em geral. Incentiva a estudar as matérias da escola não só em Física e Ciências, mas qualquer área do conhecimento.

Paulo Sergio Bretones é professor do Departamento de Metodologia de Ensino/UFSCar.