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"O candidato" será exibido hoje na Fundec

17 de Agosto de 2018 às 13:17

Nildo Benedetti

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No dia 25 de maio escrevi nesta coluna um artigo que tinha por título "O candidato", um filme atual sobre a política. A obra seria exibida na Fundec, mas, por causa da greve dos transportadores de combustível, a sessão foi suspensa por falta de funcionários.

O filme será exibido hoje, finalmente. Gostaria de resumir, em poucas linhas, o que escrevi no dia 25 de maio. Para quem não leu aquele artigo, espero que este resumo seja útil. Quem leu, pode rememorá-lo e completar com algumas observações que farei a seguir sobre o filme. Escrevi que Bill McKay, candidato pelo Partido Democrata, disputava a eleição para senador da Califórnia com o republicano Crocker Jarmon e citei três aspectos principais do filme: a ação dos publicitários e assessores de imprensa na construção da imagem de um político, o comportamento dos políticos em campanha e o comportamento do público frente à propaganda política. O livro do francês Guy Debord, "Sociedade do Espetáculo", serviu para orientar minhas observações sobre os três tópicos.

Bill McKay (Robert Redford): caça aos votos a qualquer custo - Foto: Divulgação

Os conceitos de Zygmunt Bauman expressos no seu livro "Vida para o consumo" também se aplicam ao filme. Bauman abandonou nos últimos anos os termos "modernidade" e "pós-modernidade" e passou a chamá-las de "sociedade de produtores" e "sociedade de consumidores" respectivamente. Ou ainda, de Modernidade "sólida" e Modernidade "líquida". A sociedade de produtores foi basicamente orientada para a segurança, durabilidade e pelo desejo de um ambiente confiável, duradouro, seguro. No âmbito da política, essa condição de estabilidade e imutabilidade foi, em muitos casos, imposta por governos totalitários. Na atual "sociedade de consumidores" as mudanças são permanentes e a ausência de segurança e durabilidade se evidencia nos relacionamentos afetivos, nas relações de trabalho, na formação das identidades individuais etc. -- daí a expressão "sociedade líquida". A felicidade não resulta da satisfação de necessidades: ela é permanentemente procurada no uso imediato e na rápida substituição de um objeto por outro, numa busca desenfreada de uma satisfação que nunca chega. Assim, o consumo passa a ser o centro da vida social. Tudo se transforma em mercadoria e até os próprios consumidores devem ser "vendáveis". Ou seja, sem se dar conta, os consumidores se tornam mercadorias desejadas e desejáveis. O mercado joga pesado com a irracionalidade do consumidor, estimulando emoções a partir dos produtos que lhe oferece.

O político é transformado pelos profissionais de marketing em uma mercadoria que deve ser adaptada ao gosto do eleitor para estimulá-lo a lhe dar seu voto. Orientado pelo marqueteiro, o candidato em campanha tem um discurso (menos ou mais distante do que ele realmente pensa) dirigido a obter a adesão de determinada faixa de público.

Os conceitos de sociedade de consumidores apontados por Bauman e de "Sociedade do espetáculo" de Debord são aplicáveis com propriedade ao filme, aos políticos e ao público durante as campanhas eleitorais.

Cine Reflexão

"O candidato", de Michael Ritchie

Hoje às 19h na Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita