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O berço da bossa

19 de Agosto de 2018 às 13:54

A genealogia da bossa nova não é muito controvertida. Está mais ou menos claro que tudo começou com o estilo de cantar de Lúcio Alves, Dick Farney e Maysa no fim dos anos 50, depois com a peculiar batida de samba do violão de João Gilberto acompanhando Elizete Cardoso num LP (lembra LP?) em que ela cantava “Chega de saudade”, depois com as músicas do Tom, do Vinicius, do Johnny Alf, do Billy Blanco, do Carlos Lyra e das interpretações de Nara Leão e de etc. Uma curiosidade: Elizete, depois de ser uma das inauguradoras da bossa, gravou em seguida um disco chamado “Elizete sobe o morro”, que era uma espécie de antibossa, com destaque para compositores de sambão.

A controvérsia começou quando o resto do mundo conheceu a bossa nova e perguntou, antes de mais nada, o que exatamente era “bossa”. Os dicionários não ajudavam. “Bossa”, diziam eles, era o calombo de um corcunda, um “hump”. “Bossa nova” significava “new hump”, Que possível ligação poderia haver entre aquela música tão bonita, que o Frank Sinatra, no seu legendário encontro com Tom Jobim na TV chamou de “an exciting new rhythm”, dando assim as boas-vindas oficiais à batida do João Gilberto nos Estados Unidos, com a bossa do corcunda?

Não demoraram a aparecer teorias para explicar o nome do excitante novo ritmo que começava a ser tocado por gente como, principalmente, o saxofonista Stan Getz, que meio que se adonou da bossa americana, gravando com o próprio João Gilberto e sua filha Bebel, e pagando todas as suas contas. Entre as explicações que surgiram sobre o nome da bossa a mais inventiva, e equivocada, foi a de um crítico americano que se lembrou de um disco do violonista brasileiro radicado em Los Angeles, Laurindo de Almeida, e o saxofonista Bud Shank, chamado “Brasilliance”, com o contrabaixista Harry Babasin se esforçando para ser brasileiro. Baixo em inglês é “bass”. “Bass” virou “bossa” no Brasil. Resolvido o mistério. Esqueça o João Gilberto. O berço da bossa foi o baixo do Babasin.

Luis Fernando Verissimo é jornalista da Agência O Globo e escreve neste espaço às quintas-feiras e domingos.