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Negócios à parte

05 de Dezembro de 2019 às 00:01

Negócios à parte Crédito da foto: Nicholas Kamm / AFP

Carlos Brickmann

Bolsonaro fez o que pôde para demonstrar sua paixão por Donald Trump. Seu filho posou com boné de Trump, disse que é amigo dos filhos do ídolo, tão americanófilo que garantiu ter fritado hambúrguer quando trabalhou nos EUA, na loja Popeye’s -- que faz frango frito e não hambúrguer. Um dia, nosso presidente teria de aprender que um país não tem amigos, tem interesses. O amigo do peito, o chapa, aquele que, por amizade, ia botar o Brasil na OCDE (e, aliás, indicou a Argentina, não o Brasil), resolveu taxar em 100% as importações de aço e alumínio brasileiros. Pior: usando pretextos falsos, de que o Brasil deliberadamente enfraquecia o real para ter ganhos comerciais. Trump e seus assessores sabem que o Brasil tem câmbio flutuante e o Governo pode pouco sobre o valor da moeda. Bolsonaro diz que vai ligar para Trump, que retornará assim que lembrar de quem se trata.

Amigos, amigos

</TEXT-BK>O Brasil já deveria ter aprendido a lição. Bolsonaro fez o que podia para mostrar que Trump é seu ídolo. Mas Trump não liberou importações de açúcar brasileiro; a carne não industrializada do Brasil continua proibida de entrar nos EUA. Trump diz que não pode permitir que o agricultor americano seja prejudicado. Já o álcool americano entra no Brasil livremente, concorrendo com o álcool brasileiro. E a Base Aeroespacial de Alcântara foi cedida em boas condições para que os americanos a operem. Quando Trump diz que quer a “America great again”, não inclui nada fora de suas fronteiras. De seu ponto de vista, está correto: quem é que vota na eleição americana?

Loucademia de política

O novo presidente da Funarte, Fundação Nacional de Artes, é Dante Mantovani. Em vídeo, disse que a indústria musical americana se relacionou com serviços de inteligência, e que agentes soviéticos infiltrados inseriram “certos elementos” em músicas para “experimentações” com adolescentes e crianças. O resultado teria sido o rock de Elvis Presley e dos Beatles, ambos partes do plano para destruir os Estados Unidos e o capitalismo pela destruição da moral da juventude e das famílias. Textual: “O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. E a indústria do aborto alimenta uma coisa muito mais pesada, que é o satanismo. O próprio John Lennon disse abertamente, mais de uma vez, que fez um pacto com Satanás”.

O fato de que os EUA e o capitalismo estão de pé e a União Soviética ruiu com seu império comunista não importa. Voltando a Nelson Rodrigues: quem manda são loucos que parecem idiotas ou idiotas que parecem loucos?

Nóis num lê...

Devastador. No exame internacional Pisa, aplicado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para medir capacidade de Leitura, Matemática e Ciências entre estudantes de 15 anos de idade, de 79 países, o Brasil ocupou postos no último terço da classificação. Entre dez estudantes brasileiros, quatro não conseguem identificar a principal ideia de um texto, nem ler gráficos ou resolver problemas com números inteiros (se entrar fração, piora), nem entender uma experiência científica simples.

Na América Latina, só três países conseguiram ficar abaixo do Brasil em Matemática: Argentina, Panamá e República Dominicana. Em Ciência, só dois: Panamá e República Dominicana -- esta a última do ranking mundial.

A chave da riqueza

Em 1960, a economia brasileira era bem maior que a da Coreia do Sul, da Índia e da China. Os três países fizeram esforços importantes para melhorar a qualificação de seus estudantes -- inclusive investindo pesadamente na formação de mestres e doutores em países mais avançados, especialmente na Inglaterra e nos Estados Unidos (o domínio do inglês foi considerado valioso em si, mais valioso que o do japonês ou de outras línguas). Resultado: todos estes países ultrapassaram a economia brasileira, a Índia superou a economia britânica e a China disputa a liderança mundial com os Estados Unidos.

O Brasil, além de jamais ter investido alto em estudantes no Exterior, reduziu as bolsas a quem já está em boas universidades internacionais.

O próximo alvo

Delação premiada de doleiro atinge o prefeito do Rio, Marcelo Crivella. A vereadora Teresa Bergher, que tem boa fama, articula uma CPI.

Carlos Brickmann é jornalista. E-mail: [email protected]