‘Não matarás’ é exibido na Fundec
O jovem Jazek: seu homicídio suscita várias questões sobre os seres humanos. Crédito da foto: Divulgação
Nildo Benedetti - [email protected]
Na semana passada foi exibido no Cine Reflexão da Fundec o filme “Não amarás”. Hoje será a vez de “Não matarás”. Ambos são versões em longa-metragem de dois capítulos da série da televisão polonesa “Decálogo”, dirigida em 1988 por Krzysztof Kieslowski. Os roteiros dos filmes são, como muitos outros filmes de Kieslowski, de autoria de Krzysztof Piesiewicz e do próprio diretor.
A primeira parte do filme narra os passos de três personagens que não se conhecem. Um deles é um motorista de táxi, indivíduo desagradável, que divide seu lanche com um cão e, ao mesmo tempo, se diverte fazendo esperar inutilmente pessoas que necessitam do seu serviço. Outro personagem é Jazek, que vagueia pela cidade, pouco se comunicando com outras pessoas, mas que ri com doçura quando vê crianças. Sem qualquer razão imediata, Jazek leva o taxista -- a quem nem ao menos conhece -- para um local remoto, assassina-o cruelmente e rouba seu carro. É preso e condenado à forca e sua defesa ficará a cargo de um jovem advogado estreante na profissão. Esse é o terceiro personagem acima referido e boa parte do filme trata da sua relação com o assassino Jazek.
Em “Não matarás” é possível distinguir três aspectos significativos. O primeiro é o jurídico. Convém citar que o próprio roteirista Krzysztof Piesiewicz é advogado de longa e brilhante carreira profissional, principalmente de defesa criminal e defesa de políticos. Atuou como juiz de direito, promotor e membro do Senado Polonês. Por essa razão, uma parte do filme é dedicada à discussão de questões envolvendo a Justiça. Assim, o advogado, que está sendo submetido a um exame final para conseguir exercer a profissão, mostra-se com dúvidas para responder à pergunta sobre as razões que o levaram a escolher o ofício. Sua resposta é que não sabe, mas que a profissão o atrai porque tem uma função social e que terá a oportunidade de conhecer e entender pessoas. E faz uma afirmação surpreendente: “Acredito que conforme os anos vão passando, a resposta à sua pergunta se torna mais ambígua”. Ao final, ele se mostrará revoltado com aquilo que entende ser injusto na condenação de Jazek.
O segundo aspecto é o psicológico. O filme possibilita uma discussão sobre a psicologia do homicida, de modo geral, e a de Jazek em particular. O espectador é motivado a responder à pergunta: por que o jovem mata um desconhecido e o faz da forma narrada no filme?
O terceiro aspecto é o religioso. Afinal, “Decálogo” apresenta os Dez Mandamentos sob ângulos incomuns, algumas vezes desconcertantes, totalmente diferentes aos que estamos habituados. O quinto Mandamento, “Não matarás”, é dos mais transgredidos pelos seres humanos, principalmente pelos Estados, como comprovam as mortes em massa no século 20 sob pretextos variados: genocídios de minorias, genocídios étnicos, assassínio de inimigos políticos. E sempre lançando mão de métodos cruéis como a morte pela fome ou por execução pelos diversos meios que os seres humanos têm estupenda imaginação para criar.
Serviço
Cine Reflexão
“Não matarás”, de Krzysztof Kieslowski
Hoje, às 19h
Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)
Entrada gratuita