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Mudanças no ensino médico

21 de Fevereiro de 2020 às 00:01

Reinaldo José Gianini

Estudei Medicina nos anos 70. Assim como toda faculdade de Medicina da época, a de Sorocaba ensinava a prática médica nos hospitais (Regional, Leonor Mendes de Barros e Santa Lucinda). Nos dois primeiros anos do curso, praticamente não tínhamos contato com os pacientes. Este contato começava no terceiro ano e se intensificava nos seguintes (quarto, quinto e sexto anos), sempre nas enfermarias, ambulatórios ou prontos-socorros desses hospitais.

Nos anos 80, já como médico e professor, assisti e participei de algumas tímidas inserções do curso médico na atenção básica. De início, era no tratamento da hanseníase e da tuberculose. Logo a seguir, foram puericultura e pré-natal. Depois, incluiu-se o tratamento da hipertensão e diabetes em adultos.

Em Sorocaba, somente em 1997 foi celebrado o convênio do Centro de Saúde Escola. Ele criou a possibilidade de participação dos estudantes de Medicina na rotina de uma Unidade Básica de Saúde, o que incluiu visão mais ampla da Clínica Médica, Pediatria e Ginecologia-Obstetrícia neste nível de atenção.

A tendência de o curso médico se deslocar para o denominado nível primário de atenção à saúde já vinha acontecendo em outras faculdades, em especial as públicas -- estaduais e federais.

Em 2006, a Faculdade de Medicina de Sorocaba iniciou um novo período: o currículo deixou de seguir o modelo tradicional para ser problematizador. Na nova grade curricular, desde o primeiro ano do curso, se inserem atividades junto à comunidade e Unidades Básicas de Saúde -- e são inseridas com destaque, pois são consideradas muito relevantes.

O novo currículo em Sorocaba se antecipa e procura atender às Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina:

- Uma parcela de 35% do curso deve ser internato; - 30% do internato deve ser atenção básica* e urgência/emergência; - a atenção básica é prioritária e deve ser Medicina Geral da Família e Comunidade; - 70% do internato deve conter Saúde Coletiva, Pediatria, Clínica, Ginecologia-Obstetrícia, Saúde Mental e Cirurgia; - a inserção do aluno na rede de atenção à saúde deve ser precoce e incluir os 3 níveis de atenção (Unidades Básicas, ambulatórios e hospitais); - e, finalmente, enfatiza-se a promoção da saúde.

A Faculdade de Medicina de Sorocaba tem, hoje, um internato que começa no quarto ano.

Logo a partir do primeiro ano do curso, os alunos já estão presentes em diversas Unidades Básicas de Saúde de Sorocaba; no Centro de Saúde Escola (Vila Sabiá, Vitória Régia, Carlos Amorim, Habiteto, Laranjeiras, Nova Esperança, Vila Barão, Vila Carvalho, entre outros) e, também, em algumas unidades de Votorantim e Salto de Pirapora.

Seu novo currículo preconiza a formação do médico generalista. Há grande ênfase na promoção da saúde, saúde coletiva e prevenção.

Na última avaliação do curso pelo MEC, tiramos a nota máxima -- 5. Porém, reconhecemos que manter a qualidade e a atualidade é um desafio constante. Para isso, temos o suporte de toda a PUC-SP, das prefeituras municipais parceiras, do governo estadual e das demais instituições de apoio ao ensino, pesquisa e extensão.

* A atenção básica é um conjunto de ações, de caráter individual e coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde. Elas são voltadas à promoção da saúde, prevenção de agravos, tratamento e reabilitação.

Prof. Dr. Reinaldo José Gianini é Titular do Depto. de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP.