‘Labirinto de mentiras’ no Cine Reflexão F
Johann Radmann (Alexander Fehling), promotor determinado a penalizar exterminadores de Auschwitz. Crédito da foto: Divulgação
Nildo Benedetti - [email protected]
Na semana passada, resumi nesta coluna a forma pela qual os empresários alemães colaboracionistas com o nazismo foram julgados e condenados a penas incompatíveis com o estrago que fizeram. Dentre os crimes que cometeram, estava o uso de trabalho escravo de prisioneiros em suas fábricas, principalmente provenientes do Leste Europeu.
A anistia geral decretada pelo Alto Comissário dos Estados Unidos na Alemanha, John McCloy, acabou favorecendo aos empresários criminosos de guerra. E deixou em liberdade também as pessoas físicas que haviam colaborado com o morticínio nos campos de extermínio, com exceção dos que, comprovadamente, houvessem cometido homicídio doloso. É disso que trata “Labirinto de mentiras”.
O filme transcorre na Alemanha, em 1958, portanto 13 anos após o final da Segunda Guerra Mundial. Começa quando, casualmente, um judeu sobrevivente do campo de Auschwitz reconhece em uma escola primária um antigo guarda da SS -- organização paramilitar ligada ao partido nazista -- que servira naquele campo de extermínio. Em vão um jornalista solicita à Promotoria de Frankfurt que o guarda seja investigado. Contudo, Johann Radmann, um jovem promotor público, assume as investigações. O filme gira em torno das ações de Radman para levar a julgamento antigos membros da SS que serviram em Auschwitz e que cometeram homicídios. No processo, o promotor se depara com enorme resistência à execução de seu trabalho, porque faz vir à tona o passado recente da Alemanha em que muitos indivíduos cometeram ou fecharam os olhos às atrocidades praticadas contra supostos inimigos do nazismo. Para Hitler e seus ministros, o nazismo faria emergir um novo homem, uma nova civilização, na qual os problemas sociais seriam solucionados. Eram considerados obstáculos à implementação dessa utopia opositores como liberais, comunistas, socialistas, intelectuais e os que preconizavam a democracia representativa. Deficientes físicos e mentais, judeus, ciganos, povos do Leste Europeu, artistas de vanguarda etc. eram consideradas anomalias que deveriam ser extirpadas da sociedade porque impediriam a execução do grandioso projeto que faria surgir uma civilização perfeita e muito mais bonita.
A polêmica anistia geral decretada por John McCloy foi amplamente criticada, mas o historiador britânico Tony Judt, em “Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945”, procura amenizá-la, escrevendo que o ambiente reinante na Alemanha após o término da Segunda Guerra Mundial era de destruição e colapso total econômico, social e político. Os governos militares aliados tiveram de reconstruir tudo: lei, ordem, serviços diversos, comunicações, administração. A erradicação do nazismo da vida alemã não era fácil nas circunstâncias de 1945, porque existia o problema de encontrar alemães razoavelmente competentes que não tivessem sido filiados ou associados ao regime nazista. No mais das vezes, os únicos homens qualificados eram os servidores públicos, muitos dos quais foram mais do que meros observadores das atividades do Partido Nazista.
Serviço
Cine Reflexão
“Labirinto de mentiras”, de Giulio Ricciarelli
Hoje, às 19h
Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)
Entrada gratuita