‘Jericó’ versa sobre amor e sociedade
Thomas, Ali e Laura: Triângulo amoroso com risco de terminar em tragédia. Crédito da foto: Divulgação
Nildo Benedetti - [email protected]
Hoje e no próximo dia 25 apresentaremos no Cine Reflexão, da Fundec, dois filmes do diretor alemão Christian Petzold.
Em 1934, o escritor e jornalista norte-americano James M. Cain publicou a novela “O carteiro toca sempre duas vezes”, que teve algumas adaptações para o cinema. “Jericó” é inspirado naquela novela e trata de um triângulo amoroso que -- como acontece muitas vezes no cinema (e algumas na vida real) -- termina em tragédia. A adaptação de Petzold de 2008 traz os acontecimentos da novela para a Alemanha dos tempos modernos.
O filme se concentra em três personagens. Thomas, um ex-combatente da guerra do Afeganistão, foi expulso do exército por má conduta. O filme começa ao som de sinos do funeral da sua mãe. Chega um amigo de longa data que lhe emprestou dinheiro e agora quer ser ressarcido. O dinheiro é descoberto escondido e Thomas é agredido.
Ali é um imigrante turco de meia idade, casado com uma alemã. É proprietário de uma cadeia de quiosques que emprega imigrantes de várias origens. É um tanto colérico e tem tendência ao álcool. Quando sofre um acidente de carro, é ajudado por Thomas. E quando perde a carteira de habilitação por dirigir alcoolizado, contrata Thomas como motorista e assistente. A dupla coleta pedidos e entrega os produtos que serão vendidos nos quiosques. Pouco a pouco, confiando em Thomas, Ali encarrega o novo funcionário de várias outras atividades com respeito aos seus negócios, incluindo a de usar suas habilidades de surrar trapaceiros. Quando precisa viajar para a Turquia, coloca Thomas no comando das atividades comerciais.
Laura, a mulher de Ali, tem um passado obscuro; havia sido presa e estava endividada com os bancos. Ali a conhecera quando trabalhava em um bar, havia assumido suas as dívidas com a condição de que ela se casasse com ele. No caso de uma ruptura do acordo matrimonial, ela não receberá qualquer bem e terá de voltar a arcar com o débito impagável.
Laura e Thomas iniciam um relacionamento às escondidas. Ali é ciumento, vigia a mulher, mas, ao mesmo tempo, compreende que Thomas observe Laura com desejo; em certo momento em que está bêbado, faz que o casal dance na praia ao som de música turca e se afasta. Por que o faz, saberemos ao longo do filme, mas essas atitudes decorrem de aspectos envolvendo as relações do trio de personagens.
Como se vê, o filme tem aspectos sociais ao tratar de temas como imigração europeia, desemprego, exploração de trabalho de imigrantes, compra de mulher pelo resgate de dívidas de bancos, fragilidade das relações humanas. Ali diz que mora em um país que não o quer e com uma mulher que comprou e Laura diz a Thomas que não se pode amar sem dinheiro. De fato, é o dinheiro que aciona a conduta das personagens. Por isso, as relações privadas do filme, incluindo amizades e histórias de amor, devem ser vistas mais vinculadas a questões da esfera pública e menos relacionadas ao campo afetivo. Neste segundo aspecto, mais do que amor, impera a falta de escrúpulos sob várias formas.
Serviço
Cine Reflexão
“Jericó”, de Christian Petzold
Hoje, às 19h
Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)
Entrada gratuita