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Histórias de guerra em ‘Muito mais que um crime’

19 de Outubro de 2018 às 11:38

Histórias de guerra em ‘Muito mais que um crime’ Ann (Jessica Lange) incansável para demonstrar a inocência do pai. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

Costa-Gavras é um cineasta nascido na Grécia em 1933 que, depois da Segunda Guerra Mundial, emigrou para a França. Seus filmes abordam variados temas políticos. Dele já apresentamos no Cine Reflexão, em 2016, “O quarto poder”. Hoje será a vez de “Muito mais que um crime” e, na próxima sexta-feira, “O corte”.

“Muito mais que um crime”, de 1989, conta a história de Michael Laszlo e sua filha Ann Talbot. Laszlo é um metalúrgico aposentado, imigrante há 37 anos nos Estados Unidos e tem cidadania americana. É um homem pacato, pai e avô afetuoso, saudoso da esposa falecida, amado pelos que o conhecem. Mas, recebe uma notificação judicial do Gabinete de Investigações Especiais dos Estados Unidos em que é acusado de crimes de guerra cometidos na Hungria entre os últimos meses de 1944 e os primeiros de 1945, quando teria servido como gendarme de uma espécie de esquadrão da morte, as Divisões Especiais, de um partido conhecido como Cruz de Flechas.

Para entender o significado dessa acusação, exporei brevemente o panorama político da Hungria daquele período. Durante a Segunda Guerra Mundial, o país foi aliado da Alemanha e lutou ao lado das forças nazistas. Depois da derrota do exército alemão em Stalingrado, na Rússia, em fevereiro de 1943, a derrota da Alemanha na guerra já era dada como altamente provável. Em março de 1944 a Alemanha ocupou a Hungria, temendo que o país -- como já havia feito a Itália -- se rendesse às tropas inglesas e americanas ou às tropas da União Soviética que avançavam rapidamente. Em outubro desse mesmo ano, os nazistas depuseram o governo fascista vigente e, em seu lugar, nomearam como chefe de Estado o líder do partido Cruz de Flechas, Ferenc Szalasi, um feroz antissemita. Como os russos já se encontrassem a 150 quilômetros de Budapeste, a substituição do líder visava a acelerar a implementação da política da Solução Final da Questão Judaica, ou seja, o extermínio total de judeus europeus. Judeus e ciganos eram roubados, torturados e mortos com enorme crueldade e as mulheres eram estupradas e seviciadas pelos membros das Divisões Especiais do Cruz de Flechas.

Os líderes do partido foram executados pelos russos depois do final da guerra. Como se vê, as acusações contra Laszlo, a de que seria um líder da Cruz de Flechas, são gravíssimas. Os investigadores pretendem levá-lo a julgamento para destituí-lo da cidadania americana e deportá-lo para a Hungria. A deportação, requerida pelo regime comunista que vigorava na época naquele país, seguramente levaria Laszlo à prisão perpétua ou mesmo à morte.

Laszlo nega com veemência qualquer envolvimento nos crimes e pede à sua filha Ann Talbot, uma prestigiada advogada de Chicago, para defendê-lo. Ann está convencida da inocência do pai e procura comprová-la. A partir desse momento, parte do filme transcorre no interior de um tribunal, com os habituais procedimentos jurídicos comuns a muitos filmes. Ann é bem sucedida e Laszlo é absolvido das acusações.

Contudo, o caso ainda terá desdobramentos.

Serviço

Cine Reflexão

“Muito mais que um crime”, de Costa-Gavras

Hoje às 19h

Sala Fundec (rua Brigadeiro Tobias, 73)

Entrada gratuita