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Fim?

04 de Agosto de 2018 às 11:54

Dois anos atrás, foi previsto por um grupo on-line, chamado "Profetas do fim dos tempos" que o mundo iria acabar no dia 29 de julho, por causa de uma súbita inversão dos polos magnéticos da terra(!). Não foram os primeiros nem serão os últimos falsos adivinhos. Sempre haverá gente preocupada em espalhar essa campeã de todas as fake news.

Mas como sobrevivemos, dias atrás, a um novo 29 de julho, colhi essa data para falar não do fim do mundo, coisa que só Deus sabe, mas simplesmente do fim, essa realidade certa em toda a nossa incerta existência. Fim é o momento ou o ponto em que se interrompe alguma coisa. É precipitado e nada saudável confundi-lo com realidade triste, desenlace, liquidação, ruína, queda e morte. Claro, acontecem fins decepcionantes (como a precoce eliminação do Brasil, na Copa do Mundo), fins deploráveis (como o fechamento de uma grande indústria) e até fins catastróficos (como as seguidas centenas de migrantes náufragos, no Mediterrâneo), mas a vida sempre será feita de fins, pois tudo acaba e tudo recomeça. A própria morte é um fim, mas para o início de outra vida, a vida eterna para os que creem, e para quem não crê, a transformação na pura matéria, ossos, cinzas, pó, poeira cósmica.

No fundo, pode-se até afirmar que fim não existe. Tudo acontece por horas, períodos, etapas, fases, episódios. E isso é profundamente animador, tanto em nosso pacato dia-a-dia como também em situações dramáticas. Fulano terminou seu curso de graduação. Agora tem tudo para um novo passo, uma pós-graduação, um concurso público ou mesmo uma boa viagem de férias. E o mesmo se passa frente a realidades adversas, uma desilusão amorosa, um bom emprego perdido, uma falência decretada. Há quem pensa logo no suicídio, mas haveria outras portas de saída, outros caminhos abertos. A questão é que, em última análise, tudo se decide, subjetivamente, mas, objetivamente, todo fim gera outro começo.

Uma visão serena dos vagalhões e das intempéries da vida poderia nos iluminar e estimular não apenas em termos íntimos, mas também no tocante ao mundo de que fazemos parte, a sociedade global, o nosso país, o ambiente que nos cerca, aqui e agora. Infelizmente, a tendência dominante, no momento atual, vai pelo pessimismo, pelo amargor, pela imprevisibilidade de soluções. Parece que se chegou ao fim de tudo, da moralidade política, da integridade judiciária, do compromisso público, mas o simples bom senso rechaça esse preconceito de um mundo sem remédio e de um Brasil sem conserto, nesta nossa crise social, política, econômica e moral.

Relembremos a recente greve dos caminhoneiros, as longas filas nos postos de combustíveis, a supressão das aulas, o encarecimento logo depois de tantos produtos, os prejuízos para a indústria e para o comércio, os atrasos e as perdas nas exportações. Numa palavra, uma desgraça nacional. Mas não foi o fim de tudo. O País seguiu em frente. Melhor dizendo, a nação, o povo, nós todos continuamos firmes no batente, golpeados, mas não entregues. E estamos de arma na mão -- o nosso voto -- para passar da bandalheira política a um novo tempo de mais respeito aos impostos que pagamos e menos desigualdade social.

Aldo Vannucchi é mestre em Filosofia e Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e licenciado em Pedagogia. Autor de diversos livros, foi professor e diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba (Fafi) e reitor da Universidade de Sorocaba (Uniso) - [email protected]