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Filmes da Netflix: “O dilema das redes” (Parte 7 de 9)

20 de Novembro de 2020 às 00:01

Filmes da Netflix: “O dilema das redes” (Parte 7 de 9) A sede de Apple em Cupertino, Califórnia, Estados Unidos. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

A primeira ameaça à democracia vem das mídias sociais. A democracia só sobrevive a partir de escolhas que cada indivíduo possa fazer racionalmente, quando é dono de sua vontade e de suas ideias. Mas as mídias formatam indivíduos que se fazem guiar por notícias que prendam sua atenção e confirmem suas crenças. Não temos como saber o que é verdade ou falso e o pior é que estamos convencidos de que sabemos. Por isso podemos eleger políticos contrários aos nossos próprios interesses. “Se você não está pagando pelo produto, então você é o produto‘, diz o filme.

A segunda ameaça à democracia decorre da ausência, nos programas de partidos políticos, de medidas para neutralizar a ameaça tecnológica. Tal omissão se deve ao limitado conhecimento que os políticos, mesmo os mais ilustrados, têm do assunto; e mesmo os que sabem das ameaças, não sabem como enfrentá-las no nível doméstico, porque ele é global e provocado por poderosas empresas globais de tecnologia. Além disso, os eleitores têm conhecimento restrito para fazer aos políticos as perguntas certas: “qual seu programa de governo para combater o desemprego em massa e a desigualdade que a automação continuará a gerar sem parar?”; “como será o mundo em 2030 e 2040?” etc.

A terceira ameaça à democracia é a mais desconcertante: muitos seres humanos não querem a liberdade e preferem ser mansamente conduzidos por líderes totalitários de qualquer cor ideológica. É o fenômeno psicológico da “servidão voluntária”, de que falaremos em outra ocasião.

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O principal objetivo de “Dilema das redes” é o de mostrar os perigos das redes sociais e não o de propor soluções. Soluções envolvem não somente aspectos técnicos, mas também de questões tratadas nas Ciências Humanas.

O mercado das redes sociais é uma parcela do mercado da inteligência artificial. Para discorrer sobre esta, recorrerei ao historiador israelense Yuval Noah Harari, um dos pensadores mais relevantes da atualidade. Cito quase literalmente algumas de suas ideias expostas em entrevistas que estão disponíveis no Youtube, em seus livros e artigos.

Durante milênios, as terras foram o capital mais importante e o poder de um indivíduo ou de uma nação dependia do uso que fizesse de sua propriedade. Nos últimos dois séculos, até o final do século 20, as máquinas e as fábricas se tornaram o capital mais importante e o poder de um indivíduo ou de uma nação dependia do uso e da capacidade destrutiva dessas máquinas. No século 21, é a informação que ocupa essa posição de liderança. Temos vasta experiência de como regular a propriedade de terras e de máquinas, mas não sabemos como regular o mercado de dados e nem sabemos como ele será em 20 ou 30 anos. A luta política se tornou a luta para controlar dados.

O controle do mercado de dados e outros problemas internos (meio ambiente, economia, pandemias, migração etc.) dependem diretamente das outras nações, porque são globais. Por isso, outra pergunta deve ser feita aos políticos: “Qual seu projeto para fortalecer relações com outros países, independentemente de suas ideologias, que atendam aos interesses atuais e futuros de nosso país nas áreas tecnológica, comercial, etc.?”

Continua na próxima semana

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec