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Filmes da Netflix: “O dilema das redes” (Parte 5 de 7)

06 de Novembro de 2020 às 00:01

Filmes da Netflix: “O dilema das redes” (Parte 5 de 7) A sede da Intel, em Santa Clara, no Vale do Silício, Califórnia. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - [email protected]

De onde vem o poder da tecnologia de provocar nos seres humanos a polarização social de que falamos no artigo da semana passada? No filme, Tristan Harris afirma que esse poder decorre da capacidade das redes de trazer à tona o pior da sociedade. Mas, por que o pior da sociedade emerge no ambiente criado pelas redes?

O mundo atual foge à nossa compreensão. Construímos uma sociedade tão complexa e caótica que não conseguimos dar a ela um sentido. Isso ocorre com todas as áreas que envolvem atividade humana, incluindo a das ideologias. Por isso, quando nas redes encontramos um grupo de pessoas que pensa como nós, temos a ilusão de ter descoberto o sentido procurado e nos identificamos com o grupo. Como as redes dão a cada indivíduo subsídios para confirmar suas ideias, formam-se grupos, as “bolhas”, convencidos da verdade das suas ideias e da ignorância dos grupos rivais de crenças antagônicas.

Já temos escrito nesta coluna sobre a psicologia das massas estudada por Freud. Para ele, quando o indivíduo pertence a um grupo com o qual partilha ideias, crenças ou convicções, desaparecem ou se transformam sua percepção do que é moralmente certo ou errado, seu sistema de valores morais, suas convicções, seu discernimento, seu senso de responsabilidade, sua tolerância e, em seu lugar, aflora tudo o que é mau na mente humana e que está contido ali como uma tendência; nessas condições, a pulsão de morte, que controlamos de várias formas, pode se manifestar livremente, sem censura e o indivíduo desce vários degraus na escada da civilização. É desse modo que a polarização atual faz que se formem grupos radicais, às vezes violentos, que se atacam mutuamente. Perguntado sobre o que mais o preocupa com respeito à tecnologia, Tim Kendall, ex-presidente do Pinterest e ex-diretor de monetização do Facebook disse que, no curto prazo, seria a ocorrência de uma guerra civil e que se a rotina atual for mantida por mais duas décadas, provavelmente destruiremos nossa civilização através da ignorância, não combateremos o aquecimento global, destruiremos as democracias do mundo.

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Caro leitor, o cenário preocupante que “O dilema das redes” mostra, e que venho ordenando e sintetizando nesta série de artigos, tem a garantia de veracidade dos jovens que foram diretamente envolvidos na criação das redes sociais que hoje utilizamos. São os criadores da situação atual e reconhecem que a tecnologia vem criando caos em massa, indignação, incivilidade, falta de confiança uns nos outros, mais polarização, mais manipulação eleitoral, mais populismo, mais incapacidade de focar nos problemas reais. Todos somos afetados, mesmo os que não usam as redes. Criamos um sistema inclinado às informações falsas. Não por intenção específica de destruir a verdade, mas porque as informações falsas levam mais lucro para as empresas do que a verdade. Um estudo do MIT aponta que no Twitter, fake news se espalham seis vezes mais rápido do que notícias verdadeiras. Como isso refletirá no mundo, considerando que uma tem vantagem de seis vezes sobre a outra? Isso desequilibra a estrutura do comportamento humano.

Continua na próxima semana

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec